terça-feira

Conclusão



Não quero só a alegria, quero também o ombro e o colo.
Quero as mãos feitas cordas, quero o valor da infância, quero o valor que se dá ao sabor do vento na cara , quero a sabedoria de um velho pela sua pouca pressa.
Quero a alma lavada, quero uma cara renovada pelo conhecimento.

Não quero só a existência, quero também a prosa e o momento.
Quero os olhos de todas as cores, quero o saber dos sabores, quero o sol em pele gretada, quero a chuva e o seu alento. Quero a sabedoria de um pobre, quero a inocência de um nobre, quero o teu cheiro em minha casa e quero o teu corpo por fora e por dentro.

quinta-feira

A primeira vez que amei para sempre





Ninguém, nem mesmo a chuva tem as mãos tão grandes...

domingo

Pequenez humana

E assim foste apanhada na tua grandeza,
No mais breve de uma miserável surpresa,
Onde no inferno te encontras a meditar,
Num breve prenuncio de ausência de luar.

Escondes-te de todo o campo de visão,
Numa metáfora de prantos de solidão,
Onde só te queres sentir e sentar,
Onde procuras perder ou ganhar.

E vives triste sempre em casa,
Num medo fugaz de bater de asa,
Vives assim porque a tua vida é dura.
Assim elaboras a tua própria sepultura.

Isto porque a tua alma assim te diz,
Mais que o amor é a tua raiz,
Porque se mais são, mais se somem,
O ser se triste é ser-se homem.

sábado

ACM

De que nos serve a alma e românticos cabelos,
De uma mulher cansada que repousa sobre os cotovelos,
Foi por ser só que foi existindo,
Por ter ido longe e perto de ter vindo.

Num silêncio de um murmúrio há muito esquecido,
Num olhar feliz em tempos perdido,
Procura um oceano perdido por achar,
Deleita se no tempo que peca por acabar.

E na hora que é feita num minuto só,
Ouvem-se flores, aves, verdes e pó,
Nesta noite se escreve um cantar amigo,
Sozinha não estás...eu estou contigo.

domingo

Último rei do ano

E se tudo fosse o último,
Olhar, razão, sorriso, um não,
Se hoje o tempo fosse perdido,
Esquecido e pouco vivido...senão...

Ainda saberias porque aqui andas?

sábado

Ataque do miócardio

Não é amor, nem lei, nem guerra,
É músculo gordo feito em terra,
Fulgor escasso a entristecer,
É fogo fraco que ninguém quer.

Sendo incerto e derradeiro,
É barco isolado em nevoeiro,
Que peca tarde por procurar,
Que tem no início o acabar.

E no mistério do vento que ruge,
Numa dor que vive e surge,
Como relâmpago de certa idade,
Que ilumina a eternidade.

São dois irmãos com o mesmo nome,
Onde um fica e o outro some,
Ninguém sabe qual deles foi,
O que fica hoje é herói.

Assim a faca que o rompeu,
Como as mãos que Lhe entregamos,
Mais um Homem que não morreu,
Deus não aprova que partamos.

A àgua não tem memória

Nem todas as noites se calam,
Nem tudo o que brilha é ouro,
Mesmo assim vozes falam,
Mesmo assim eu olho.

Nem sempre nos vale o que somos,
Nem de tudo vive do que pomos,
Mesmo assim eu insisto,
Mesmo assim eu existo.

E depois da noite que é obra,
De um nobre que nos namora,
É nela que a minha persiste,
É nela que a minha vida existe.

domingo

The good die young

Recebe-o em Teus braços como a um filho, olha por ele, leva o a mergulhar no teu mar e a sentir a verdadeira água salgada.
Ensina lhe as novas regras da tua casa, educa-o como se fosse o seu primeiro dia de escola...

Começa pelo Z, faz ao contrário!

Diz-lhe como apertar os atacadores em oito, só com o olhar. Ensina-lhe a regra dos três simples, o teorema de Pitágoras, as pinturas de Miguel Ângelo e Leonardo, ensina-lhe a astrologia, a astronomia, geologia, matemática, geometria, as ciências, a medicina, ensina-o a fazer arroz doce.

Diz-lhe como é fácil saltar a corda, como é giro o salto em queda livre, como se planta uma árvore!

Uma macieira, é essa a Tua árvore não é?

Ensina-o a cantar, a ouvir cantar os outros, diz-lhe como olhar para o horizonte e proteger os seus, ver os seus, amar os seus.

E...Ama-o, ama-o mais agora do que quando estava vivo!

Heróis


Cansaço

Porque me invades e disperso,
Violas mais que o meu universo,
Como que se de espinhos te tratasses,
Seco de alma e seios,
Algemas-me os pulsos inteiros.

O meu império já visto,
O meu dia feito em xisto,
Pulmões que me saltam do peito,
De mais um cigarro a jeito,
Templários de cruz desfeito.

Cristo ao alto cansado,
De mais um mundo humilhado,
De noite presa num pendão,
Grupos de putas e um cabrão,
Em noites de pura inciação.

Antemanhã dura de tormenta,
Faz se mais e a quem aguenta,
Cai a cortina de cena adversa,
De uma alma mínima imersa,
Só importa a morte e desventura,
Sonho de bichos em cama dura.

monólogos de rapazote

O que me segredas ao ouvido,
O que me dizes não faz sentido,
Noite demorada, dura, calada,
Manhã breve, cansada e parada.

Que sombra te trás ao colo,
Que tão suavemente te senta no solo,
Que ao de leve e de mansinho,
Te sopra e te proteje, a ti pequenino.

De onde vens tu feiticeiro,
Porque te escondes, porque não me falas primeiro,
Que chão esburacado esse por onde passas,
Morres de fininho, incompleto e te desgraças.

Então e esse segredo que não o oiço e não entendo,
Figura vadia, esguia, que não compreendo,
A Sombra esquecida na penumbra das velas,
Tu sozinho, perdido por becos e ruelas.

Tu, pequenino...

segunda-feira

Água da minha terra

E se te sentasses à minha beira,
Se te encostasses e baloiçasses a minha cadeira,
Onde Deus nunca foi santo ou herói,
Onde aqui domina o que se constrói.

E se te deitasses na minha cama,
Se te levantasses como quem ama,
Onde a Senhora nunca se deitou,
Onde de o fruto nunca provou.

Sonhava anónimo e nunca visto,
De profeta incompreendido como Jesus Cristo,
Confuso e denso como o universo,
Perdido nas estrelas, vago e disperso.

Se me embalasses em pequeno o berço,
Ao Senhor chamava e assim o pareço,
Como do copo bebido o santo graal,
Filho do mundo e de um comum mortal.

De tudo que tem grandeza e cor,
De tudo um pouco e mais amor,
Embalas-me numa mão perdida de desejo,
Como se caminhasse sobre as águas do Tejo.

Morte do "Zé ninguém"

Assim como um cometa que se atravessa no céu,
Como um arrepiar de frio que não é o meu,
O Bater de asas mil vezes num dia,
De um corpo devasto que já não via.

Assim como um castelo construído à beira mar,
Areias movediças que o atiram ao ar,
Como o por do sol e a chegada da lua,
Numa canção de embalar que não era a tua.

E se no fim do arco íris está o pote,
Segues as pisadas que te levam ao Norte,
Num caminho que é o ultimo por onde vais,
Hoje te digo, partiste cedo de mais.

quarta-feira

A vida espera

-Ela sonha que construas-Que procures e descubras-A tua linha desenhada-
Numa ida inacabada-Ela deseja que vejas-Que sonhes o que desejas-Que faças a tua estrada-

segunda-feira

Sonhos de criança

E se fizéssemos dos dias segundos, das estrelas mundos, saberias onde estás?
Se me contasses todos os segredos, se juntasse-mos os dedos, deixarias tudo para trás?
E se as semanas fossem anos, fosse-mos todos humanos, guardarias tudo a que não te dás?
Largarias o sagrado e o profano, o oculto e o mundano e tudo aquilo que não se faz?

Amor, volta a dormir...aqui não há porque acordar!

domingo

Às vezes, o suficiente é...

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
...mandar-te para o raio que te parta!

sábado

A terra dos sonhos

Sam desistiu.
Deixou de percorrer as mesmas ruas.
Largou de vez as tintas que o ajudavam a pintar as paredes dela.
Apagou a luz pela última vez e fechou a porta.

Aqui não volto mais!

Sam quis apagar da sua memória esse amor antigo e voltar para o único que lhe fora fiel.
O único amor que nunca o deixara, mesmo depois de ele ter partido sem justificações.
A essa, ele tudo lhe devia. O seu espaço, o seu ar, o seu caminhar, o seu cheiro que mesmo ao fim de tantos anos Sam nunca esquecera e nunca perdera. O som era o mesmo, o fim de tarde na sua companhia era provavelmente o único sitio onde ele se podia perder e achar-se ao procurar-se.
Até hoje, Sam nunca percebera o porque de a ter abandonado por tanto tempo, e como poderia ela recebe-lo com o mesmo espírito com ele a deixara há anos atrás.

Verdadeiro amor! - pensou ele

Ela nunca saíra do mesmo lugar, continuava com o mesmo brilho, com a mesma simplicidade de sempre, adorada por muitos e a todos recebia com só ela sabe.
As suas paredes mesmo pintadas por graffiti não lhe estragavam a candura, as suas ruas sujas não lhe retiravam a beleza, o som dos carros não lhe retiravam a paz de espírito quando dormia ou quando acordada.

Sam, apenas a queria de volta, para nunca mais a largar.

Não há nada que se te compare, tu és a minha cidade!

O casamento.

Se não temos medo é porque não andamos com atenção.
Se não dizemos "amo-te" hoje, amanhã poderá ser tarde.
Se não te lembrares de nada, eu relembrar-te-ei de quem sou, todos os dias.

sexta-feira

A menina

E assim te fito pousada sobre os cotovelos,
Delineadas as curvas e pintados os cabelos,
Vista de um ângulo obtuso e disposto,
Com a mão aberta onde repousas o rosto.

O teu corpo justo, breve e recuado,
Olhas com a atenção de um rei cansado,
Atinges o meu corpo de forma fatal,
Namoras o tempo de quem não te quer mal.

Compras a minha desgraça com a tua glória,
Invocas o espaço de que há memória,
Negas a presença daquilo que te basta,
Com coração pequeno mas a alma vasta.

Assim como o minuto que passa involuntário,
Se assim me assiste então eu saio,
De uma história breve e de outrora,
Acabou se o tempo, acabou se a hora.

Dança da lamentação

Tu que sacodes a terra inteira,
Que danças no susto da escuridão,
Formas sombras decompostas de poeira,
Elaboras passos majestosos de união.

Na floresta onde clareia a tua fogueira,
Lamentas a morte de mais um marinheiro,
Inventas coreografias de uma maneira,
Choras a ida de quem foi primeiro.

Nas duas mãos o acto e um destino,
Oferecendo a dança aos céus,
Num gesto trémulo e divino,
De quem deixa esvoaçar os véus.

Subitamente sobes estas encostas,
Onde na praia vês ao longe sepulto,
Uma nau velha de talhas expostas,
E assim esqueces moribundo vulto.

Direito de justificação.

O porquê da escrita,
Porque cantado ninguém acredita,
As palavras leva as o vento,
Ou desvanecem se com o tempo.

O porquê da poesia,
Porque me alegra a noite e o dia,
Permanece aqui ou em papel de carta,
E diverte me que se farta.

quinta-feira

Quando o soldado volta a casa.

Porque te escondes da ausência e mistérios,
Renegas o sentimento de poucos homens sérios,
Eclipsas o tempo do nunca e do quando,
Apagas a chama de um breve lume brando.

Porque não elevas tão alto sentimento,
Te deixas perder na fuga do esquecimento,
Arrasas as letras e e abafas o som,
Calas a voz e matas o dom.

Porque incapacitas a aurora da vitória,
Desacreditas os mortos e a sua memória,
Dás corpo à bala como se estivesse escrito,
Atiras em plenos pulmões um pobre grito.

E se nem assim te afastas da desgraça,
Não há viv'alma que o consiga e faça,
Hasteiam se bandeiras de pura inglória,
De um sujeito triste com tão pouca história.

A última dança.

Deixa me que te agarre num abraço forte, com toda a minha força, com toda a minha vontade e sem que me empurres, sem que me ignores.

Tens saudades minhas?
Só os Homens o sentem!

Deixa me que te cuide, que te alimente, que te pocure sempre, sem que recues e olha me de frente.

Porque não me olhas?
Só os Homens o fazem!

Deixa me que te sinta, que te cheire, que o meu toque na tua pele seja eterno, sem que te ofendas, sem que lutes contra a minha mão.

Danças comigo?
Só os Homens dançam!

LUA

Suspendes o ódio e a escuridão dos céus,
Vives do movimento e depois dos assombros,
Foges iluminada esvoaçando os véus,
Carregas o medo dos homens nos ombros.

Quartos de luz de silêncio de guerra,
Cheia de tudo, das marés e da terra,
Cais em êxtase quando te pões nova,
Morres de amor numa escuridão nervosa.

Cheia de nada do primeiro e de clarões,
Iluminas os lobos, a noite e os ladrões,
Tormentas gigantes , conduzes marés,
Misteriosa dos céus, ninguém sabe quem és.

Unha desfeita cheia de névoa,
Ladeiam-te póros de gelo e das trevas,
És ausente de tudo à beira-mágoa,
Vejo te linda com os meus "olhos frios de água."

terça-feira

Arquitectura da fuga e a revira-volta.

Bates me no peito com a força de um canhão,
Arcos em quebra com a força da pressão,
Pressa na ida num arqueamento natural,
Falas do teu tempo que nunca foi igual.

Desenhas a cúpula por onde queres sair,
Guardas martelos que te ajudam a fugir,
Rasgas projectos para omitir o pecado,
Deixas as marcas a quem te quer guardado.

Aceleras os ponteiros em tempo recorde,
Esqueces o passado para que nada te demore,
Decoras as paredes com um branco puro e limpo,
Esqueces te de mim e daquilo que sinto.

E se mais tarde a cúpula desabar,
Revives os anos que não soubeste cantar,
Reconstróis impérios feitos de água e xisto,
Relembras a casa, onde ainda hoje existo.

Ser como o vento

Que tal se o vento nos levasse,
E na curva nos largasse,
Atirados de forma bruta ao nevoeiro,
Entre folhas secas e pedras no meio.

E se a chuva nos molhasse,
Talvez ele se entregasse,
Aos ramos velhos de centeio,
De um tronco nobre que nem veio.

Como se de uns cabelos gastos,
De lágrimas em cara escorridas,
Levitam almas por verdes pastos,
Onde as mulheres felizes andam escondidas.

Depois a noite acontece,
e o vento vira, volta e curva,
Ajoelhamos-nos numa prece,
De uma obra triste e turva.

domingo

sábado

Crows

Step out the front door like a ghost into the fog
Where no one notices the contrast of white on white
And in between the moon and you the angels get a better view
Of the crumbling difference between wrong and right
I walk in the air between the rain through myself and back again
Where? I dont know
Maria says shes dying through the door I hear her crying
Why? I dont know

Round here we always stand up straight
Round here something radiates

Maria came from nashville with a suitcase in her hand
She said shed like to meet a boy who looks like elvis
She walks along the edge of where the ocean meets the land
Just like shes walking on a wire in the circus
She parks her car outside of my house
Takes her clothes off
Says shes close to understanding jesus
She knows shes more than just a little misunderstood
She has trouble acting normal when shes nervous

Round here were carving out our names
Round here we all look the same
Round here we talk just like lions
But we sacrifice like lambs
Round here shes slipping through my hands

Sleeping children better run like the wind
Out of the lightning dream
Mamas little baby better get herself in
Out of the lightning

She says its only in my head
She says shhh I know its only in my head
But the girl on car in the parking lot says
man you should try to take a shot
Cant you see my walls are crumbling?
Then she looks up at the building and says shes thinking of jumping
She says shes tired of life she must be tired of something

Round here shes always on my mind
Round here hey man got lots of time
Round here were never sent to bed early
And nobody makes us wait
Round here we stay up very, very, very, very late
I cant see nothing, nothing round here
Catch me if Im falling

quinta-feira

Nuno (Nuneta)

Perdidos e achados.
De olhos molhados.
Encontro dos castanhos e esverdeados no meio da multidão.
Soltar dos pulsos irmãos.
Corda entrelaçada, agora cortada por uma tesoura de mão.
Ida e volta, partida de revolta num mar de turbilhão.
Cheiro ausente, voz demente no tremer da emoção, com ou sem razão.
Cumplicidade agarrada de viagem marcada rompendo a união.

Apenas o mar rasga o espaço,
De uma alma feliz que assim te perde,
Encosto me hoje num velho sargaço,
Com a simples saudade que Deus me pede.

Alenta me a imaginação do lembrar,
Que um dia me surges vindo do nada,
Homem que é mais que meu par,
Vindo de uma qualquer vida encantada.

E na madrugada de um novo dia,
Acordada de bem estar,
Espero a chegada de figura esguia,
Assim que essa aventura acabar.



"É muito difícil encontrar um bom amigo, mais difícil ainda deixá-lo e impossível esquecê-lo."

domingo

Geometria indescritiva

Nem sei se é possível, as camisas rasgadas não têm volta a dar. Há de ser sempre assim e bem que nos perdemos, andamos fora da linha continua.
Imaginar viagens a contar os traços que nos dividem, o tracejar de uma estrada, lembrar:
Eu já passei por aqui?
Não, esta estrada é sempre igual, passaste por ela há um quilometro atrás, e é tudo...

Depois vamos, seguimos, vemos o futuro juntar-se na linha do horizonte, e quanto mais andas, mais te afastas, e segues e afastas, e mais segues e mais sais e mais me largas.

Não uses a estrada como vida própria, ela nunca se encontra!

Nós...talvez um dia.

quinta-feira

*******

Não tenhas medo, sempre to disse, sempre to lembrei.
Preferes ouvir o cair dos pingos da torneira, um embalar da gota em água, como se o compasso do tempo te hipnotiza-se.
Sempre foi com cara lavada, camisa desgrenhada e a fumar um charro.
Fumo de lamentação? Eu não, eu, não! Mas obrigada!
Largas o embrulho em mesa desfeita, deixas que ópera se cale e estimulas o ladrar dos cães.
Aí vem tempestade...
O melhor é cortar os pulsos, devagar, devagarinho...


hummmm...

quarta-feira

PG

Bem sei que os relógios se encontram duas vezes por dia, que as roupas que ontem usaste jamais as voltarás a vestir, que as confidências em 9 horas de olhares não passavam de escapadelas de um outro mundo que não o meu.

Que os tambores apenas falam em inglês, que o sentar no chão é apenas para estrangeiros, o ser se desconhecido de todos os monumentos nos fazem pensar que somos especiais e nunca vistos.

Bem sei que o voltar a casa não é para sempre, é o entrar com o corpo e sair com a alma, é beber água a pensar no vinho, é ter fome e não comer.

Nunca se volta a uma casa onde nunca existiu o sangue, onde nem os cabelos se encontram.

Esse teu sangue não é o meu, nem chega a ser o teu, esse latejar de nervos miudinhos de quem veio para não ficar.

Como agarrar para deixar cair, segurar para mais tarde largar.

Depois há os resistentes, os que guardam para não deixar fugir, os lembrados que não se deixam ir, porque melhor que não querer ficar, é saber que se quer partir.

terça-feira

Ai, que eu amo este homem!

“Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher, que algumas se perdem (…)”




Fernando Pessoa, in Diário Popular, 28-XI-1957

domingo

PB

Que rocha é essa que temes em segurar,
Cruz de pau que Deus te deu a carregar,
Ausência de vento em ruga marcada,
Vertem se lágrimas em cara lavada.

Que abraço é esse que aquece o tempo,
Entrelaçar dos véus num breve momento,
Choras as dúvidas que a vida te mostrou,
Espetos no caminho com que Ele te fadou.

E se é nas horas que vives a mágoa,
Que congelam os olhos quentes de água,
Seguras a mão de quem te solta do pesadelo,
"Apanha todas as pedras, um dia contróis um castelo".

terça-feira

Areia lunar

Caio no areal como sombra imersa,
Areia fina entregue aos meus,
Sobrevivo na cruz de uma alma adversa,
No mesmo sonho que o dele e os teus.

De que me serve essa areia de desventura,
Se a tudo o resto me guardei,
Se é sonho o meu então eterno dura,
É nesse sono a que depressa regressei.

Triste mesmo é viver numa casa,
Descontente com o mesmo "lar",
Neste sonho é o bater de asa,
Planar sobre pedras e flores e arrasar no mar.

Triste de quem não é feliz,
Porque reclama uma vida dura,
Nada na minha alma assim o diz,
O ser se na vida é obra na sepultura.

À minha temperatura normal

Hoje não há nada para perceber. Sabem das coisas, todas, como se fosse a última.
Sobem litradas de bancadas, de flores na mão, como se fossem ao encontro de uma qualquer alma. Lado esquerdo, lado direito, mil cabeças, ping-pong. Nem te olha, não te vê, e tu suas enquanto sobes.
Depois vêm velhas medidas, não há cá o quilograma. Pesam te as pernas e mais suas, mais sobes, menos te vê. Corres como carteiro. Esse chega só ás 2. E suas. Sobes. Desapareces.

domingo

"I know not what tomorrow will bring..."








by FP

I´m so sorry...

...IF I DON'T GIVE A SHIT!!!




And please, don't trust my lyrics.

quinta-feira

As ondas do Guincho.

Que costa essa onde elas se contam,
Onde se perdem tranquilas ao achar,
Fogem seguidas e não se encontram,
Rebentam batidas à beira-mar.

Não se vêm em formas de X surgindo,
Som que nos meus ouvidos persiste,
Seguidas de marés elas vão existindo,
Ondulação de mar que a vista assiste.

Na areia fria onde o mar insiste,
Em cor quente de sabor salgado,
Secas a pele e o que dela consiste,
Queimas o mais nobre corpo delgado.

E do abismo de onde a água se ergue,
Não há sinais de ilha remota,
Violência santa que só ele consegue,
Viver em seu corpo é saborosa derrota.

Às Pês

O braço esquerdo é recuado,
O outro direito anda mais cansado,
As pernas finas num ângulo disposto,
Os olhos pintados marcam o rosto.

Olhar esfíngico de femme fatal,
Andar vadio que não há igual,
Toldam se nela românticos cabelos,
Descansa eterna sobre os cotovelos.

Como os deuses que vendem e dão,
Meta alcançada em sonhos de ilusão,
Assim acalmas a tua alma vasta,
Dormes na noite numa paz que te basta.

terça-feira

Dor no joelho

Limita-se a mudar, desligar telefones, sinais de fumo, entupir a caixa do correio com papel para não caber mais nada, nem o ar lá entra e o fundo deixa de se ver.

O querer correr todas as manhãs até ao final da tarde, de costas ou de lado, tudo menos de gatas, aí doí nos ossos.
Desactivar contas, largar o relógio em cima da prateleira até que a pilha se acabe. Tic Tac. shiuuu.

Chave na porta, está ao contrário, abre se para a direita e vais direita à parede.
Arrumar a roupa que se acumulou durante um mês de ausência da cama, da nossa cama, mudar os lençóis.

Mudam-se os lençóis e muda se a cor, o cheiro de outro corpo entranhado e que se sabe que ali não se volta a deitar. Queimam-se as fronhas num panelão, aqui não voltas cabrão! Aqui não voltas...

Levantar o colchão para entalar novos lençóis.
Traaaasssssss...
Porra, outra vez não!

Decisão de descanso, sem noitadas, sem fumo de cigarros.
Afastar uma tonelada de madeira...o joelho direito sai do sitio, dor agonizante com direito a grito isolado, suor amarelado, dor equivalente ao tiro no peito.

A mudança dói, no corpo e na alma.

Marta

Qualquer coisa assim bonita,
Multidões que dão vida infinita,
Felicidade completa no encontrar,
Vida que não se deixa mostrar.

E assim dão voltas de veias humanas,
Montados em lendas gregas ou romanas,
De meninisse perdida ao achar,
Uma vida por duas ao acordar.

Se o teu sangue hoje é o meu,
Perdido em carne que Deus nos deu,
Então que assim seja a sua vontade,
Mais vale agora do que mais tarde.

domingo

B

E assim te deitas sobre os cotovelos,
Braços marcados pelos sonhos sem vê-los,
Pequeno seio o teu que a amamentou,
Mulher fugaz que a vida fadou.

Às nações hoje que deixam mistérios,
Desdobram-se em tudo e perdem impérios,
Exuberância fina num andar de costas,
Queda de flores vivas em árvores dispostas.

Meta alcançada onde gritam os mortos,
Aplaudem o amor e os barcos em portos,
Obsessão vadia onde jaz a ternura,
Riscas o tempo e comes pedra dura.

E assim descansas onde um dia foi partida,
Mensagens de imagens passadas de fugida,
Encontras na criancice o mais que te dão,
Deitas te nas escadas que hoje te dizem não.

Stop worrying...


...and enjoy your life!

quinta-feira

Hummmmm...




...não me apetece escrever mais!

terça-feira

Unidade que me tranquiliza

There are a few things that I can't replace:

There is people,
There is their love,
There is Life,
There is it's time,
There is a moment,
There is 1 second,
There is a Kiss,
There is a sweet mouth,
There is a friend,
There is his friesdship,
There is one place,
There is that special one,
There is a hand,
There is it's fingers,
There is you,

And then...

There is uniquity.

segunda-feira

sábado

Estranho no quarto

Ouvem se gritos lá fora, os cães ladram...

Pummmm! A porta fecha-se num estrondo que nem os trovões conseguem, nem a força maior se arrebita!

ACABOU!!!

As tábuas que antes eram portas, agora são rampas de salvação.
Os vivos levantam-se e levantam a voz, acendem-se axas de cachimbos de erva fresca.

Eu diria que era coca, mas eu sou eu...e aqui ninguém dorme!
Não te zangues, vinga te! Se não te dormes, dormem-te.
Agora olha para ti! Dois murros na porta e o sangue pode ser de outro.

Adivinha?? De onde eu venho o sangue pode ser teu! A saliva pode ser tua e tudo em 48 horas!

Olha bem...Tu, olha bem!

Não me uses, não sou mais um teu, nem mais um...sou único e não sou pouco!

sexta-feira

Conversas com o Velho.

Passa a cara por água, mas fá-lo com paixão, se o fizeres assim conseguirás coisas importantes.
Mostra aos outros como se faz, como te lavas, como tiras a tinta dos olhos, como passas o cabelo pela corrente.
Salta mas segura na barbela, que fetiche esse!
Lava as mãos que te seguram, os pés que te suportam, as pernas que se mostram, mas só quando há vento.

Eu prometi que não o desiludia, que faria tudo com amor...

Fá-lo, mesmo que sejam filmes de terror, fá-lo!

terça-feira

Foi desta que fui

Vou voltar na primavera,
lá para o lado das sereias, entre bagos riscados e cristais de madeira.
Quero ver os pássaros verdes pelas voltas de Lisboa, e encontrar os segredos nas ruas velhas da Madragoa.
Entre bosques meio distintos, e muros de pessoas, voa, voa...
E visto lá de cima, a cabeça das senhoras...

quinta-feira

Joana

Grandiosa e imaculada como serra alta,
Abunda a vida e o que nela falta,
Caem em seus pés países triunfados,
Olhos de jade e a lápis desenhados.

Seguro de vulto nunca solitário,
Andar de menina com trato vário,
Poderosa deusa e um outro tanto,
Amada por todos nem sabe quanto.

Mulher hoje de rosto sério,
Assim constrói um novo império,
Branco usado onde ondulam os véus,
Celebram os homens, celebram os céus.

Duarte

Hoje o homem e a hora são um só,
Deixada a criancisse feita em pó,
Numa história recente feita agora,
Momento único que não demora.

Menino-rapaz a 3 nascido,
Dádiva de um quarto irmão sentido,
Sentido em sonhos e nele veio,
Último de uns tantos e Deus no meio.

Claro a pensar e no sentir,
Engraçado a falar e a sorrir,
Vive nobre e celebra a vida,
Numa ideia nova sempre tida.

Tão grande alma e minha par,
Mãe-pequena de dia e ao deitar,
Pequeno homem de alma perfeita,
De uma vida repleta e feita.

terça-feira

Quando o rei se cansou da mesma cama

Quantos não são esses que nos passam, como quem entorna um copo meio cheio na roupa,
olha e pede desculpa para logo depois seguir caminho! Assim é fácil...
Depois vemos a nódoa, ela apenas passou mas a nódoa não sai, não com água, não sem um esfregão a pilhas para ter mais força...que isto só com os braços cansa!

Lixívia?

Essa tira a cor e eu gosto da cor, gosto da tonalidade...meio branco esverdeado se é que me faço entender!

E eles passam uma e outra vez, parecem pássaros virados a sul, quando eu procuro o norte e eu não viro costas, o norte espera...até porque a nódoa também não fica, vem comigo na camisola.

1000 kms, já suei, esbracejei, beijei e voltei a amar, e o melhor é que rasguei e deitei fora...e a nódoa com ela.

As vezes, bom mesmo é andar nu!

segunda-feira

Depois da volta chega a casa de partida.

É bom saber-te e não te querer, é bom não mais cheirar-te ou ver-te correr.
Agora sim, podes nem responder, podes nem querer.

Já nem te sinto! E não há nada melhor do que já não te sentir...

quarta-feira

A cabeça fora do chapéu

Na página certa escreves um conto amigo,
Acendes o fogo que trazes contigo,
Arrastas a pedra pesada sem querer,
Escondes a obra que teima em aparecer.

Foges em cruz numa noite obscura,
Seguem-te na ânsia de quem te procura,
Deixas-te cair sem que te queiras achar,
Pedes amor ao sol e a força ao mar.

Encontras a cidade que nunca te quis,
Esqueces as ruas onde foste feliz,
Pintas as paredes de um amor de outrora,
Escondes-te de um outro de hoje e agora.

Nesse cantar imaculado e puro,
Buscas em ti um porto seguro,
Força em tudo e venha o que vier,
Melhor que isto tudo é ser-se mulher.

Não consigo acender o isqueiro.

Parece que o mal do mundo anda nas teclas, do A ao Z, do Ctrl ao Del, do F1 ao F9 e quando isso não chega, sempre há o Caps lock, para aumentar o martírio.

Pior que isso, só a dor no corpo todo, como quem andou a rastejar num campo minado, a estoirar uma bombinha de cada vez, e a levar com o estrondo 50 kls de carne fresca.

Experiências de campo de férias talvez...


E porquê?

Dor na ponta dos dedos...e cigarros, esses, só se alguém me trouxer uns fósforos.

terça-feira

As dez montanhas mais altas do mundo e tu.

Pé ante pé, sem corda de segurança...


Por três vezes te ergues no mundo ,
Rodas nas trevas por mais de um segundo,
De um sonho negro que não é só meu,
Dono do despertar que nunca foi teu.

Por seis vezes as mãos ele ergueu,
Toque no céu que antes se escondeu,
Foges das alturas e da alma que teme,
Preferes o mar e controlar o leme.

Tu que um dia ousaste amar,
Por portas altas onde só podias matar,
Cavernas escuras que não mostro ou desvendo,
Arrombas a porta com um amor tremendo.

Entraste com velas onde hoje me roço,
Cantaste músicas que ainda agora oiço,
Tocaste no meu cume como seta em água,
O que sinto hoje é amor, não é mágoa.

Escalas a montanha com a bandeira na mão,
Cravas no peito num acto de união,
Desistes do jeito e sais a voar,
Hoje pergunto o que te levou a entrar?

I believe so...

http://www.youtube.com/watch?v=JsLdnKtFpNg&feature=related

Jogo do vai não vai mais o silêncio de uma pobre alma.

http://www.youtube.com/watch?v=2x7YAOV3_14&feature=related




Vira já na próxima esquina, aí já estas a meio caminho do céu, distância suficiente do abraço.

Tens força que chegue para te atirares?

Queda livre, saída, atira te e pronto!
Puxas pela voz, pela corda ou pelo raio que a parta, mas solta-te.
Não queres não feches, vem de olhos, boca, braços, pernas, narinas, dedos, mãos, pés, o que quiseres trazer contigo, abertos ou fechados, de costas ou de frente, de pés ou de cabeça.

Arrisca!

Vem a dormir se isso te faz sentir mais velho e sábio, podes sempre vir a dormir, simulas o peso de uma pluma e vens a pairar, dessa maneira não vês o chão aproximar-se a 230 kms hora, se o teu medo é a distância, ou será a velocidade? Ou é mesmo tudo?

Pergunto te outra vez:

Tens força para te atirares?

Porque eu tenho como te agarrar!

segunda-feira

Guerra na cidade dos idiotas

Protege-o, que o gajo é um maricas!
Não te preocupes, eu guardo-lhe as costas...



Trepa acima e rebola por ali abaixo, arrasta-se como lagarta, encolhe-se como um menino.

As vezes é preciso dar a cara, levanta-te e luta!

Um tiro no ombro nunca fez mal a ninguém, dói mais ter fome, olhar para o sol, ter a pele gretada do frio, amar e não ser amado... levanta-te e corre, com sorte, a única coisa que te acerta é uma bala amiga, agora se for o cúpido, aí sim, estás bem fudido, por isso é bom que calces as rodas e te ponhas a deslizar...

Levanta a arma e aponta em sentido, os inimigos estão de amarelo, (cor estúpida para quem não quer ser visto)! E já agora leva o código para conseguires abrir a porta do campo ao lado, não ponhas os pés em água senão morres electrocutado.
Vê se desta vez arriscas, antes de te atirares para o chão...

Vou estar mesmo atrás de ti!

Atrás?
Isso, atrás, nem à frente, nem ao lado, é atrás!
Mas atrás não me vale de nada...
Então não? Não é esta uma batalha de caranguejos?

You...

http://www.youtube.com/watch?v=8UkKTlzyLhQ

domingo

Mãos lavadas

Primeiro dia, primeira facada, primeira desistência, primeiro café com o primeiro cigarro. Primeiro bocejar, primeiro acordar, primeiro beijo, primeiro amor, primeira viagem, primeira ida, primeira volta, primeiro olhar, primeira dança, primeira vez, primeira pedra, primeiro desgosto, primeira história, primeiro toque, primeiro choro, primeiro murro, primeira paixão...


Tenho em mim, que tudo deveria ser como da primeira vez!

sábado

Direitos de autor de uma verdadeira escritora

Já li isto um milhão de vezes...
E vou ler um milhão de vezes mais!


"Dá-me cinquenta razões para esquecer-te. Cinquenta razões para não mais perguntar por ti, nunca mais revolver-me em mórbida curiosidade. Para que desista do desejo incessante de saber das tuas voltas e revoltas, dos teus tiros e retiros, das tuas canções e redenções. Não, espera. Não me dês nada. Não mudemos a história. Deixa-te ficar sossegada, em casa, debaixo das mantas de Outono. Não quero que te canses. A partir de hoje, tudo o que pedir, pedi-lo-ei ao mundo.

O mundo que me ofereça razões pra que nunca mais te trepe na janela, para que não mais os pés me fujam até onde vives. Mas se cinquenta é um número redentor, então cinquenta são as tuas ruas. Não te cingirás nunca a uma avenida só, mesmo que desemboque num santo de braços fechados. Repara: tens a rua onde te reconheci pela primeira vez. A rua onde te beijei o nariz, te abracei os medos, te contei os dedos. Tens a rua que vai da cozinha ao teu quarto - caminho que tantas vezes partilhámos, entre cheiros de cabelo teu e tremuras das pernas minhas. És dona da rua onde Deus passou por nós numa tarde de chuva. Da rua onde esse mesmo Deus gritou que nos separaria. E após essa separação és dona de todos os lugares, como se depois de ti a cidade estivesse suja de impressões digitais. És dona do centro comercial onde me fazias bainhas nas calças, dona da parede onde pintei as palavras AMANHÃ FICA COMIGO, dos passeios que sujei de verde e de vermelho, das calhas de eléctrico que me vacilam o carro, do marquês que afinal é rei. Tu és dona.

Não te canses mais, menino perdido. Desiste de mim. Não sou mais que a fuga tua aos dias tristes. Fizeste de mim mulher-explosão. Mas eu, rapaz, não passo de ser quem sempre fui. Apenas quem não te queria.

Um dia desistirás tu de não saber-me. Um dia cinquenta paredes te cairão em cima, ou cinquenta tapetes se levantarão. E todos os momentos-eu que para debaixo deles atiraste - os cheiros meus, os olhares mais ternos, os gestos desconsolados - tudo te voltará. Um dia, talvez daqui a cinquenta anos, levantar-te-ás assustada. A meio da noite sem saber para que lado da cama cair. Lentamente porás um pé, depois o outro, nos chinelos alinhados no chão. Sentar-te-ás na borda da cama, com uma mão de cada lado do corpo, apertando os lençóis e os algodões. Farás de tudo para que o teu homem-pouco não acorde. Virar-lhe-ás as costas num gesto inato, de metáfora. Então, como num tique de memória, ver-me-ás entrar. O teu corpo estremecerá por saber-me vivo, eu, o cabrão que fizeras apodrecer, desaparecer, envelhecer, distorcer. E que no final mandaras matar. Afinal nada me tinha morto, nem sequer a arma da tua vontade. Afinal tinha sobrevivido ao tempo e à escuridão, ao teu voto de exclusão, à missão da chuva e dos tufões de Abril. De anos e anos antes. Continuava vivo, tão vivo que quase me sentias real, quase era eu o teu homem de sempre. Quase não tinhas errado.

Não avances mais. Não vejas um futuro que não tens que ver, que não é teu e que nem nunca existirá. Deixa-te ficar quieto no teu canto, não me entres mais por dentro. Sai de uma vez. Eu sem ti sou tudo.

Nem tu, nem ninguém. Nem sequer cinquenta pastilhas na minha mão, esperando para ser engolidas. "Pastilhas para acalmar, para controlar", dizia o médico e diziam os teus amigos. Pastilhas que me roubaram vontade mas nunca a dignidade, que me roubaram velocidade mas nunca a intensidade. Nem tu, nem ninguém, nunca me roubarão de ti. Cinquenta tijolos podem voar, fazendo pontaria ao meu peito. Cinquenta amigos podem dar-te razão. Cinquenta canções podem perder-se pelo caminho, as que eram minhas e eram tuas. Cinquenta objectos podem trocar de posição - o saleiro pelo pimenteiro, o telefone pelo vidro sujo, até o jornal pelo prego antigo. Nunca nada me fará parar.


Tu paraste já, há tanto tempo. Há anos que não sei e ti, há anos que as vozes inoportunas não fogem para o tema teu. O mundo aprendeu a controlar-se, a não deixar que o tu e o eu se encontrassem mais, nem mesmo nas coincidências. Já ninguém se lembra de nós. E por isso, Ser descoordenado, não jogues mais a sorte que e caiu em cima. Esqueceste-me. Aceita que me esqueceste.

Vem. Grita-me cinquenta vezes que nunca me pertenceste. Grita o quanto me iludi nas noites tristes em que me passavas a mão no peito, quando o meu coração batia acelerado e eu tinha medo de morrer. Grita que dos teus dedos não saiam analgésicos, calmantes, anti-oxidantes e suavizantes. Grita que não me abraçavas com força, tanta que se te cortava o ar. Que não encostavas a testa na minha e dizias "não me largues", que não me fixavas os olhos por uma hora e cinquenta minutos, que não me rezavas no ouvido, que não me amavas quando ninguém via ou ninguém ouvia.
Por ti, meu amor perdido, porque tu partiste, os dentistas especializaram-se no fabrico de caixões. As mulheres da fruta passaram a apregoar taludas, as lojas de chineses deixaram de vender caixas inúteis, os professores de yoga licenciaram-se em química. Depois de que te foste. até o Quarteto deixou de ser cinema.

Acaba. Acaba com isso agora.

Tu amavas-me desajeitadamente, mulher. Roubavas-me a mão em lugares escuros, puxavas-me para a cama em noites de humidade. Transformavas Lisboa e Barcelona em cidades tropicais, tanta era a água que te saía do corpo quando me deitavas. Suavas antes de tempo, mas tínhamos começado e tu já quase no fim, um pé meu tocava o teu e já tu ofegavas de desejo.

Por favor, não entres por aí. Vais mentir descontroladamente. Eu nunca sequer soube o teu nome, quanto mais o teu cheiro.

Do meu cheiro sabes à distância. É impossível que aterre em Lisboa e da tua mão não caia o lápis, o alicate, o bisturi. Que não te pares por um segundo, que não te sintas estranha em território teu. É impossível que em dias de regresso meu não tenhas medo de sair à rua ou tocar o chão.

Pára de enunciar razões e reciclar tentações. Tu nunca me exististe. Levei cerca de cinquenta minutos, talvez segundos, a esquecer-te e a expulsar-te. Não consigo entender porque raio ainda te lavas no sabão dos anos passados.

Deram-me cinquenta razões para deixar-te. Para esquecer-te e não mais desenvolver-te. Para partir, desistir, nunca mais reincidir. Os homens preocuparam-se realmente, fizeram manifestações na minha porta, de cartazes levantados e hinos bem preparados. Levantaram braços e fecharam punhos, ameaçando-me, arrastando-me pelos colarinhos, deitando fogo a imagens tuas. Propuseram-me trocar-te por cinquenta mulheres bonitas, e tu que nunca sequer foste bonita, era eu quem tinha olhos turvos de melancolia. Ofereceram-me dólares e outros tostões, mandaram parar comboios e aviões. Só para que me fosse. Diziam eles que o amor que levava era arrasador, excessivo e aniquilador. Entristecia povos e alentava a solidão, trazia mudanças de clima e defraudava sociedades ecologistas.

Parti, sim. Mas não por cinquenta razões. Não por respeito a ti ou respeito a mim, nem seque por respeito aos animais que barafustavam.
Eu parti por respeito à cidade. Por respeito à calçada gasta, às pedras polidas por pés arrastados. Aos cabos eléctricos que movem transportes, às febras de Junho e à cerveja entornada. Parti por respeito ao cheiro a café que sobe as ruas em manhãs geladas. Ao velho que na avenida diz adeus, sem distinção ou sem razão. Ao poeta, ao desenhador e ao jardineiro. Ao pregão e ao ladrão. Eu parti por respeito ao manjerico, às torradas cortadas em três, ao pousar dos pombos e ao voar das migalhas. Aos pátios escondidos, às laranjeiras acolhidas, às estátuas de mortais. À luz do rio. À cor da ponte. Meu amor antigo, que saibas esta única verdade: viver Lisboa sem ti, mas querer ainda estar contigo, é como amar a duas mulheres ao mesmo tempo. E o meu coração nunca foi tão grande."

O Dever de Um Homem por Matilde Campilho na Egoísta 50, de Junho de 2008.

quinta-feira

Dom'nú da razão.

Há cidades que parecem selvas, há o dar a mão e não a agarrar, há compassos a circular apenas a 180º, há quem fique pela metade, há o inchaço do cérebro ausente de massa, há o sangue que corre nos vivos, há a carcaça dos bichos selvagens, há a vergonha do uso supérfluo, há árvores que já nascem tortas, há a conversa com os mortos.
Há a comodidade da relação ou da falta dela, há a iluminação profunda, há as revistas com marcas de copos de uma noite qualquer, há o jogo de xadrez feito a um.
Há a procura de outros corpos, há outros tactos, há outras camisolas muito acima do teu número, há outros cortes de cabelo.
Há sons válidos, há homens que se levantam, há mulheres imortáis.
Há o desfibrilador a 300 wats, há pás da ressurreição, há filhos de um deus maior ou de outros 100, há a comida que queima, há água congelada que evapora.
Há aulas sobre rochas partidas, há livros passados à lupa, há sumos espremidos em noites frias, há bolos duros comidos, há chocolate amargo cuspido, há monstros da criatividade, há a realidade esquecida e o milho deixou os campos.
Há a realidade das coisas, há ausência dos amores, há os escudos protectores, há formigas a roubar comida, há murros na solidão, há velhos a celebrar os jogos e os bancos, há a música eterna, há arranhão nas costas, há o roxo, há os dedos no chão, há a vista da janela, há anos corridos, há gente, em causa nossa, há equilíbrio sobre 7 rodas.
Há o desconhecido das sebentas, há a pequenez dos astros no papel...


Depois...

Só depois, existes tu e eu...

Assobio (seguido por dor de cabeça)

Mãos nos bolsos, abanar a anca enquanto ando, danço e canto pela rua a caminho do escritório.
Esquerda-direita-esquerda, mais uma voltinha, um Plié e depois o poste!


Não vi o cabrão!

Se não te calas, calam-te...

quarta-feira

Chegar a casa.

És Dom sol que se abre aos céus,
És vida pura em olhos meus,
Tens seio materno que nos amamentou,
Vives na guerra que Deus te fadou.

Montanha homem, antes menino,
Que nas veias escorre o fatídico destino,
Gritas de noite e perfumas o dia,
Sons próprios teus que mais ninguém cria.

Pai foste e hoje nobre cavaleiro,
Vales de força em campo inteiro,
Ondulam armas sem te poder ver,
Entregas os braços sem saber perder.

És vida inteira em causa tua,
Dono da terra, das estrelas e da lua,
Império oculto que ninguém se intromete,
És vida em sonho, meu pequeno Tibete.

Estranha forma de expressão.

Virose, forte!
É como escrever para depois apagar.
Usar carvão em vez de tinta feita de cobre.

Dizem que o cobre dá boas energias!

Depois, escreves para a eternidade o que devia ter sido apagado hoje:

- Cartas de saudade;
- Já se faz tarde;
- Amanhã não quero;
- Agora espero;
- Ontem perdeste-te;
- Depois esqueceste-te.

Aí usavas o lápis...

Trocaste as tintas rapaz!

Love is...


...in a kiss!


terça-feira

Salta pocinhas

Dou por mim aos saltinhos, a correr e aos pulinhos, bem rápidos para não molhar as meias.
Mais vale tirar sapatos e arregaçar calças, assim só molho os pés!

Corro mais uns metros e encontro o jardim cor de rosa.
Beijo a testa do Mocho, faço cócegas no Ouriço, monto à Amazonas na abelha e dou por mim a 200 metros do chão.

Tenho vertigens, prefiro a apnéia!

Leva-me até ao chão, prefiro os pés molhados, as meias encharcadas e sapatos na mão.
Volto a beijar a testa do Mocho e volto a fazer cócegas no ouriço, viro-me e desapareço!

É da praxe beijar o mocho e afagar o seu bicho de estimação...jardim estranho este!

Voltar para casa, decorei as pedras que pisei?
Nunca...a memória escapa-me! porque não as pintei?

Assim voltei, calças arregaçadas, sapatos na mão, meias molhadas, mas com os pés no chão!




Terra a Terra.
Acorda!! Os jardins têm outra cor...e tu nunca tiveste medo de alturas!

A.M.O.r.

Giro é falar de amor sem o sentir, é como cego a apalpar...reconhecer e não ver!

Depois acaba, como se chegasse à última estação de uma viagem que durou 50 horas.
Dói o corpo, o espírito e a alma.

Dor de ossos, acomodado no mesmo banco, na mesma posição, no mesmo cheiro, na mesma cara, na mesma pessoa e por 50 horas? Não...

Comer o mesmo bolo durante anos, usar a mesma camisola durante uma semana, nunca mudar os móveis de sítio, ver os mesmos canais, ouvir o mesmo CD, sair sempre às 7, entrar sempre as 10, fazer o mesmo caminho, jantar sempre as 9, correr sempre os mesmos 20? Não outra vez...

Murro em cima da mesa!

Acabar. Desenvolver e seguir.
O amor nunca acaba, sente-se, por isso não falo do que não sinto!

quinta-feira

Filho da Terra

Entras pela luz da fogueira,
Numa dança que te clareia,
Bates os pés na terra com dureza,
Levantas os pós da certeza.

Embalas uma canção nunca vista,
Dança de pernas egoísta,
Arrancas cabelos em soltura,
Num movimento que perdura.

Iluminas a floresta apagada,
Numa coreografia pouco ensaiada,
Tornas o frio em coisa quente,
Carregas o meu futuro no ventre.

Fogo que te move, vê e aquece,
Levanta-se a chama que me enlouquece,
Juntamos os corpos em acto comum,
Na única dança em que fomos um.

Diálogo entre ladrões

Ida:

- Vais tu ou vou eu?
- Vais tu porque a última foi a mim que doeu!
- Qual delas te pôs torto?
- A da porta dura deixou-me morto!
- A porta clara ou a outra escura?
- A porta branca e dura!
- Vou agora e tu ficas a olhar?
- Vai, para que possamos voltar!
- E no saco quem segura?
- Seguro eu para que corras!
- Levo a lanterna que a noite é escura!
- Rezo para que não morras...

60 pulsações - 60 segundos

Foi o tempo em tempos perdido,
Num mar bravo não esquecido,
Em flor nova de aventura,
Numa névoa nunca escura.

Nem num minuto ou segundo,
Me encontrei no fim profundo,
Numa paixão clara que já era,
No pouco amor que nunca dera.

Mágoa foi que nunca roguei,
Até porque nunca encontrei,
Deixo-me livre e a pensar,
Num breve lamento de olhar.

E aquando da falta de um sinal,
Numa alma sempre igual,
Seja ela forte ou dura,
Tanto bate até que fura.

O mundo ao contrário!

Hoje vi um cão a passear o dono...

terça-feira

Last one standing

Que alternativa tens senão parar o relógio, fechar as luzes e acender as histórias, correr contra o vento, o lavar das cartas.
Acaba. Pára. Apaga.
Congelar o tempo, o vento, o fogo, a tesão, o amor, o coração. Frio. Gelado. Parado.
A dança dos mortos, corrida de motos, fuga das bicicletas, competição de bichos de conta. Cheiro de Doninha, pedra pequenina, ponteiros fugidos, ao longe os ruídos.
Passos pesados, olhos cansados, molhados, nem amarelos nem esverdeados, fechados.
Não chores.
Decisão, ilusão, desilusão, conclusão.Não olhes.
Ficar e esperar. Olho enquanto te espero.

Espero por ti até me quereres!







Pietá

Pedra virgem que descansas ao largo do riacho que te moldou, que te adoptou até à eternidade, vagueias com as correntes que o riacho te propõe, usas a cor que ele te impôs e o cheiro que te oferece. Pousas nua e fria, com marcas de mágoa e desistência, procuras o poiso seguro e a chave para a existência.
Sustentas a ambição numa marca restrita, queres muito mais mas que ninguém te acredita.
Esperas nas horas, nos anos e segundos, vês passar os milénios e o transformar dos mil mundos, decoras as constelações e o significados dos signos, ultrapassas o tempo dos dinossauros e outros pequenos.

Depois alguém passa e te trespassa, agarra te como troféu e exibe-te como taça, arranca te de casa, do calor e do aconchego materno, faz te esquecer do amor que até agora era eterno.
Molda-te numa escultura de uma mulher polida, com seios de leite e ventre com vida, tornas-te mãe dura numa arte sem escolha, devastas a memória da pedra e da folha.
Mais tarde, encontras -te com forma esculpida, por umas mãos rijas e gastas do tempo e da vida, tornas te obra de um qualquer génio autor, esqueces o teu caminho e surpreendes a dor.

De tudo o que se torna épico é porque alguém o faça, numa vida de pedra que se tornou forma de graça, vives o final como o momento de glória, se ontem eras pedra hoje és história.

Interrupção

...


És maqueta de esferovite, de um qualquer monumento por construir.
És pedra de calçada, separador de auto-estrada ou o seu traço continuo.
És limite de velocidade, numa aldeia ou cidade, és sinal de proibido, portão velho esquecido de casa abandonada. És paragem obrigatória, não és mais um hino de glória, és passado perdido, futuro esquecido, és personagem secundária e lâmpada apagada.

O génio?

És sombra dos sonhos, és pecados medonhos dos três ou dos sete.

Mas o génio? E os pecados são sete!

Shiuuu! Não me interrompas que isto sai tudo seguido e de fininho!
És tu que sabes quantos pecados o outro comete?
Mal sabes tu que não são três nem sete! São no mínimo oito...

Oito?

Estupidez, diz te alguma coisa?

Bem, continua...

Contra resposta

Porquê?
Porquê o quê?
O quê não sabes?
Não, o quê?
Não sabes o porquê?
Porquê o quê?
O porquê de não saberes ou do não?
Qual não?
Não porquê?
Porque não?
Não sabes?
Não. Tu sabes?
Sei o quê?
O porquê?
O porquê do quê?
Do não ou do porquê?

Não sei...

Então porque perguntas?
Pergunto o quê?
O porquê?
Mas o porquê do quê?
Não era uma pergunta?
Qual?
A do porquê?
Não era a do não?
Era?
Não, era do porquê!
Porquê?

Não sei, mas não quero e pronto!

segunda-feira

Give me something of that

Ri-te todos os dias 100 vezes e depois agradece,
Lembra-te do ontem 5 vezes e depois esquece,
Imagina o dia seguinte 3 vezes e depois aparece ,
Liga a quem amas 1000 vezes e depois permanece,
Recorda a tua infância 2 vezes e depois cresce.

Love rider

Pois, lá andas tu aos tiros!
Sobrepões e arrastas-te mulher feita máquina.
Bailarina privada, recebes dinheiro a troco de nada, não olhas nem fitas, não beijas e não acreditas, és mulher de varão, de arma na mão e a troco de nada ficas parada à espera de nada e com sonhos de ilusão.
Lá está! Arrastas-te pela calçada, meia nua e cansada de uma noite de dança, sempre com a esperança que te salve um qualquer cabrão.

Coitada de ti mulher!
Disparas para todos os lados, mas não acertas em ninguém...

Chegas a casa, vestes o que o antes não vestias, entornas o vinho num copo que nem vias, e não te chegasse já a outra bebedeira, bebes um, dois, três copos e depois a garrafa inteira.

Assim não vais lá!

E depois há o acordar, que pior que despertar, e sair da cama vazia, e como já Deus te dizia:

"Ama o próximo!"

Não há próximo, nem de perto nem de longe, nem ontem e agora, é que...

...As máquinas não vivem muito!

domingo

Pessach (1976)

Lembro me de ti como carne para canhão!

Andavas tu descalço, com os pés em ferida. Já o teu pai tinha separado as águas e festejava o dia em que as flores se abriam.

Mas antes, muito antes!?

Antes? Antes tudo era pó. Só havia pontes em madeira. Passagem de um lado verde para o outro lado verde. E mais acima, mais pontes havia, estava tudo separado por riachos, que mesmo atravessados a pé, não me molhavam sequer os calcanhares. Mas eles fizeram pontes, passagens dizem eles, passagens! Passagem do mundo amarelo para o mundo amarelado.
Antes de ti tudo era igual. Essas pontes hoje não existem e mal sabem eles que passados estes anos, os riachos tornaram-se num imenso mar, agora sim, essas pontes davam jeito!

Acho que sempre foram estúpidos!

Desculpa, não volto a dizê-lo! Mas é o que de facto são estúpidos...
Não lhes bastava 2 pontes? Visto do céu tudo parece ridículo.
O que é que dizes ao teu pai? Olhe...são as passagens deles. Passagens?

Depois vieram os ramos, abanavam se com eles para disfarçar o calor que nem tinham. Folhas gigantes de palmeira. Nem tinham calendário como o nosso, não tinham dias como nós, aliás um dia não são dias, mas eles abanavam-se por dias! Estúpidos!

O que é que te irrita tanto?

A estupidez do Homem, eles não perceberam ainda que a passagem és tu!?

quarta-feira

Feniletinamina

Encontras-te perdido em parte incerta,
Vives dos homens e depois do assombro,
Marcas as entradas e a passagem coberta,
Levantas-te mais depois de um tombo.

Estudas as lendas, as histórias e contos,
Sentes o cheiro de um corpo delgado,
Elaboras estátuas e pinturas em pontos,
Percorres o mundo de um lado parado.

Vês em cima o culpado presente,
De mais uma dor que nunca foi de outrora,
Sofres por isso o que mais ninguém sente,
Morres de paixão no hoje que é agora.

O que na vida sempre é imprevisível,
E o que te eleva aqui e em toda a parte,
No amor onde na maioria não é visível,
Se isto não te basta sempre há o chocolate.

Em nome do Pai

Da-me uma razão para que não te procure!

Porque não poderei eu saber por que ruas passas, por que bancos te sentas, o que sonhas ao deitar, a primeira imagem ao acordar. Dá-me uma razão para que não me sintas!
Porque não poderei eu escrever-te na parede do quarto, nas paredes do mundo, na minha e na tua, arranhar e arrancar tintas, procurar e achar-te.
Porque não posso ver com quem andas, que becos procuras, sem nome de homem ou de mulher, esse teu jeito jeitoso de ser.
Nome delicado esse que apresentas e que não se consegue escrever, é preciso entrar em mim para te conhecer. Por que ruas andas, em que luzes te escondes? E porque não danças? Não avanças? Apenas esperas que te amem sem que te dês a ver.
Dá-me 100 razões para não te ter!

Não sabes que não se duvida?

Bem que te tenho, não te vejo mas não te estranho.
Passo por essas mesmas ruas, risco as mesmas paredes, cuspo para o mesmo vaso, arranco a mesma tinta, grito bem mais alto porque o meu tu ouves, corro onde se sente o vento, paro onde os meus pés me param , deixo a tua carne e a água que deitas nos confins da minha gaveta. Ordeno os meus livros por capas e cores, por temas e autores, as molduras por pessoal e impessoal, junto o frio com o quente, cores complementares e opacas, tintas e latas.
Misturo e arranco ilusões, conto histórias de policias e ladrões, brinco como qualquer criança de 50 anos. Dá-me 1000 razões para que não o faça!

Assim está melhor!

Melhor para ti que não te cansas, que mesmo que grites a pulmões abertos ninguém te ouve, mesmo que corras pela areia ninguém te vê pegadas, mesmo que andes por becos e ruelas não há alma que te sinta.

Não tenho razões para te amar...

mas amo!





São Sebataena

Como te sinto ainda pequenina, sentada ao colo com o tamanho de criancinha mulher. Como te vejo como fogo adormecido, mar rebelde em ondas fracas envolvido, torpedo em cápsulas escondido.
Como te vejo furacão enfurecido, arrastando magoas dos desconhecidos, dos 5 anos perdidos...e tão cedo te perdeste, tão tarde te esqueceste dos mortos e defuntos, dos pais e dos segundos.
E depois vem a história própria, que só acontece a quem a evoca.

Não sei porque não te acreditas!

És criança-mulher, és mulher feita criança...porque o tempo não foi justo contigo.

SR200

De que me vale que escrevas na parede, que esmurres o ar por irritação porque quem tu queres não te dá devida atenção. E então do nada riscas me a parede?
De que me serve que ames assim o mar, e que nele te vás deitar e que te deixes embalar em coisa tão fria, e depois te venhas vingar e dizer me que não te faço companhia! Estúpido!
De que me favorece a tua presença, depois de 2 anos de ausência, por onde andaste pela Europa fora, sem cartas, pés e demora. Demoraste na volta, e eu já não te sinto pequeno!
De que me apraz o teu envolvimento, e o teu regresso ternurento que por mim não passa. E depois enrolas te na volta, onde encontras a ponta final, como se de um orgasmo se tratasse, e que mal se ficasses nesse estado de tesão, sozinho e sem razão...coitado!
De que me alimenta esse "fica comigo"? Já ele imóvel entre aspas, preso em frases e palavrões, filho de deusas e cabrões. Lixa-te...o Amanhã não existe!

terça-feira

M'rock

Não sei porque voltas, porque te voltas e afastas, porque do nada me agarras e me soltas no mesmo segundo.
Não sei porque me ignoras, tu rapazinho!
Não sei por onde andas, demandas e indagas, o que escreves e depois apagas, o que cantas como tua musica de glória, quando a letra não é tua, quando ainda te pões nua, numa qualquer vitória, que não passou senão de puta história. Tu não meu rapaz, tu não!
Que viagens são essas que tanto evocas, que não passam senão de épicos de avós, contadas por eles e ouvidas por nós, onde já dormimos sobre manto riscado, mais roto que rasgado, mais sujo que usado, mais velho que cansado...o que inventas tu agora?
Inventas que muito viajaste e pouco viste, que o teu chegar a casa é diferente dos nossos, que as tuas paredes contam outras cores e outras memórias, mais que as imagens desenhadas na carteira, onde chegas e queimas na fogueira, dizes tu que é passado! Só porque as apagaste?
E então e as recordações, mais escritas que em canções, mais faladas que cantadas, arranhadas e desafinadas, compostas por um menos Mozart, ou Sting, um take it ou bring.
E quantas línguas tens? O português, e espanhol, o italiano ou francês, o inglês ou é pura apequenes. Não te enganes rapaz! Não és único, és um...
E um que só pouco faz, que mais que tira ainda trás, que mais se dá e menos se deu, como a mãe que faleceu. Continua a fugir...
E se te digo que um dia quererás, mesmo que não sejas capaz, esse dia da espera padeceu, da noite como o breu, este amor que não morreu...
Mas rapaz, para te esquecer, basta-me tirar os óculos!

Ex-tasy

Bem que o tento,
Que o faço mas não aguento,
Que te vejo e entro num pranto,
Que me escondo de outro tanto.

Bem que o salvo,
Que acelero e não travo,
Que te endireito sentada,
Que me levanto cansada.

Bem que o fujo,
Que corro e percorro,
Que te quero e te sinto,
Que me deixo ir com o tinto.

Bem que o amo,
Que divago e tomo,
Que te desejo e prego,
Que me invade o sincero.