domingo

Último rei do ano

E se tudo fosse o último,
Olhar, razão, sorriso, um não,
Se hoje o tempo fosse perdido,
Esquecido e pouco vivido...senão...

Ainda saberias porque aqui andas?

sábado

Ataque do miócardio

Não é amor, nem lei, nem guerra,
É músculo gordo feito em terra,
Fulgor escasso a entristecer,
É fogo fraco que ninguém quer.

Sendo incerto e derradeiro,
É barco isolado em nevoeiro,
Que peca tarde por procurar,
Que tem no início o acabar.

E no mistério do vento que ruge,
Numa dor que vive e surge,
Como relâmpago de certa idade,
Que ilumina a eternidade.

São dois irmãos com o mesmo nome,
Onde um fica e o outro some,
Ninguém sabe qual deles foi,
O que fica hoje é herói.

Assim a faca que o rompeu,
Como as mãos que Lhe entregamos,
Mais um Homem que não morreu,
Deus não aprova que partamos.

A àgua não tem memória

Nem todas as noites se calam,
Nem tudo o que brilha é ouro,
Mesmo assim vozes falam,
Mesmo assim eu olho.

Nem sempre nos vale o que somos,
Nem de tudo vive do que pomos,
Mesmo assim eu insisto,
Mesmo assim eu existo.

E depois da noite que é obra,
De um nobre que nos namora,
É nela que a minha persiste,
É nela que a minha vida existe.

domingo

The good die young

Recebe-o em Teus braços como a um filho, olha por ele, leva o a mergulhar no teu mar e a sentir a verdadeira água salgada.
Ensina lhe as novas regras da tua casa, educa-o como se fosse o seu primeiro dia de escola...

Começa pelo Z, faz ao contrário!

Diz-lhe como apertar os atacadores em oito, só com o olhar. Ensina-lhe a regra dos três simples, o teorema de Pitágoras, as pinturas de Miguel Ângelo e Leonardo, ensina-lhe a astrologia, a astronomia, geologia, matemática, geometria, as ciências, a medicina, ensina-o a fazer arroz doce.

Diz-lhe como é fácil saltar a corda, como é giro o salto em queda livre, como se planta uma árvore!

Uma macieira, é essa a Tua árvore não é?

Ensina-o a cantar, a ouvir cantar os outros, diz-lhe como olhar para o horizonte e proteger os seus, ver os seus, amar os seus.

E...Ama-o, ama-o mais agora do que quando estava vivo!

Heróis


Cansaço

Porque me invades e disperso,
Violas mais que o meu universo,
Como que se de espinhos te tratasses,
Seco de alma e seios,
Algemas-me os pulsos inteiros.

O meu império já visto,
O meu dia feito em xisto,
Pulmões que me saltam do peito,
De mais um cigarro a jeito,
Templários de cruz desfeito.

Cristo ao alto cansado,
De mais um mundo humilhado,
De noite presa num pendão,
Grupos de putas e um cabrão,
Em noites de pura inciação.

Antemanhã dura de tormenta,
Faz se mais e a quem aguenta,
Cai a cortina de cena adversa,
De uma alma mínima imersa,
Só importa a morte e desventura,
Sonho de bichos em cama dura.

monólogos de rapazote

O que me segredas ao ouvido,
O que me dizes não faz sentido,
Noite demorada, dura, calada,
Manhã breve, cansada e parada.

Que sombra te trás ao colo,
Que tão suavemente te senta no solo,
Que ao de leve e de mansinho,
Te sopra e te proteje, a ti pequenino.

De onde vens tu feiticeiro,
Porque te escondes, porque não me falas primeiro,
Que chão esburacado esse por onde passas,
Morres de fininho, incompleto e te desgraças.

Então e esse segredo que não o oiço e não entendo,
Figura vadia, esguia, que não compreendo,
A Sombra esquecida na penumbra das velas,
Tu sozinho, perdido por becos e ruelas.

Tu, pequenino...