segunda-feira

Água da minha terra

E se te sentasses à minha beira,
Se te encostasses e baloiçasses a minha cadeira,
Onde Deus nunca foi santo ou herói,
Onde aqui domina o que se constrói.

E se te deitasses na minha cama,
Se te levantasses como quem ama,
Onde a Senhora nunca se deitou,
Onde de o fruto nunca provou.

Sonhava anónimo e nunca visto,
De profeta incompreendido como Jesus Cristo,
Confuso e denso como o universo,
Perdido nas estrelas, vago e disperso.

Se me embalasses em pequeno o berço,
Ao Senhor chamava e assim o pareço,
Como do copo bebido o santo graal,
Filho do mundo e de um comum mortal.

De tudo que tem grandeza e cor,
De tudo um pouco e mais amor,
Embalas-me numa mão perdida de desejo,
Como se caminhasse sobre as águas do Tejo.

Morte do "Zé ninguém"

Assim como um cometa que se atravessa no céu,
Como um arrepiar de frio que não é o meu,
O Bater de asas mil vezes num dia,
De um corpo devasto que já não via.

Assim como um castelo construído à beira mar,
Areias movediças que o atiram ao ar,
Como o por do sol e a chegada da lua,
Numa canção de embalar que não era a tua.

E se no fim do arco íris está o pote,
Segues as pisadas que te levam ao Norte,
Num caminho que é o ultimo por onde vais,
Hoje te digo, partiste cedo de mais.

quarta-feira

A vida espera

-Ela sonha que construas-Que procures e descubras-A tua linha desenhada-
Numa ida inacabada-Ela deseja que vejas-Que sonhes o que desejas-Que faças a tua estrada-

segunda-feira

Sonhos de criança

E se fizéssemos dos dias segundos, das estrelas mundos, saberias onde estás?
Se me contasses todos os segredos, se juntasse-mos os dedos, deixarias tudo para trás?
E se as semanas fossem anos, fosse-mos todos humanos, guardarias tudo a que não te dás?
Largarias o sagrado e o profano, o oculto e o mundano e tudo aquilo que não se faz?

Amor, volta a dormir...aqui não há porque acordar!

domingo

Às vezes, o suficiente é...

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...mandar-te para o raio que te parta!

sábado

A terra dos sonhos

Sam desistiu.
Deixou de percorrer as mesmas ruas.
Largou de vez as tintas que o ajudavam a pintar as paredes dela.
Apagou a luz pela última vez e fechou a porta.

Aqui não volto mais!

Sam quis apagar da sua memória esse amor antigo e voltar para o único que lhe fora fiel.
O único amor que nunca o deixara, mesmo depois de ele ter partido sem justificações.
A essa, ele tudo lhe devia. O seu espaço, o seu ar, o seu caminhar, o seu cheiro que mesmo ao fim de tantos anos Sam nunca esquecera e nunca perdera. O som era o mesmo, o fim de tarde na sua companhia era provavelmente o único sitio onde ele se podia perder e achar-se ao procurar-se.
Até hoje, Sam nunca percebera o porque de a ter abandonado por tanto tempo, e como poderia ela recebe-lo com o mesmo espírito com ele a deixara há anos atrás.

Verdadeiro amor! - pensou ele

Ela nunca saíra do mesmo lugar, continuava com o mesmo brilho, com a mesma simplicidade de sempre, adorada por muitos e a todos recebia com só ela sabe.
As suas paredes mesmo pintadas por graffiti não lhe estragavam a candura, as suas ruas sujas não lhe retiravam a beleza, o som dos carros não lhe retiravam a paz de espírito quando dormia ou quando acordada.

Sam, apenas a queria de volta, para nunca mais a largar.

Não há nada que se te compare, tu és a minha cidade!

O casamento.

Se não temos medo é porque não andamos com atenção.
Se não dizemos "amo-te" hoje, amanhã poderá ser tarde.
Se não te lembrares de nada, eu relembrar-te-ei de quem sou, todos os dias.

sexta-feira

A menina

E assim te fito pousada sobre os cotovelos,
Delineadas as curvas e pintados os cabelos,
Vista de um ângulo obtuso e disposto,
Com a mão aberta onde repousas o rosto.

O teu corpo justo, breve e recuado,
Olhas com a atenção de um rei cansado,
Atinges o meu corpo de forma fatal,
Namoras o tempo de quem não te quer mal.

Compras a minha desgraça com a tua glória,
Invocas o espaço de que há memória,
Negas a presença daquilo que te basta,
Com coração pequeno mas a alma vasta.

Assim como o minuto que passa involuntário,
Se assim me assiste então eu saio,
De uma história breve e de outrora,
Acabou se o tempo, acabou se a hora.

Dança da lamentação

Tu que sacodes a terra inteira,
Que danças no susto da escuridão,
Formas sombras decompostas de poeira,
Elaboras passos majestosos de união.

Na floresta onde clareia a tua fogueira,
Lamentas a morte de mais um marinheiro,
Inventas coreografias de uma maneira,
Choras a ida de quem foi primeiro.

Nas duas mãos o acto e um destino,
Oferecendo a dança aos céus,
Num gesto trémulo e divino,
De quem deixa esvoaçar os véus.

Subitamente sobes estas encostas,
Onde na praia vês ao longe sepulto,
Uma nau velha de talhas expostas,
E assim esqueces moribundo vulto.

Direito de justificação.

O porquê da escrita,
Porque cantado ninguém acredita,
As palavras leva as o vento,
Ou desvanecem se com o tempo.

O porquê da poesia,
Porque me alegra a noite e o dia,
Permanece aqui ou em papel de carta,
E diverte me que se farta.

quinta-feira

Quando o soldado volta a casa.

Porque te escondes da ausência e mistérios,
Renegas o sentimento de poucos homens sérios,
Eclipsas o tempo do nunca e do quando,
Apagas a chama de um breve lume brando.

Porque não elevas tão alto sentimento,
Te deixas perder na fuga do esquecimento,
Arrasas as letras e e abafas o som,
Calas a voz e matas o dom.

Porque incapacitas a aurora da vitória,
Desacreditas os mortos e a sua memória,
Dás corpo à bala como se estivesse escrito,
Atiras em plenos pulmões um pobre grito.

E se nem assim te afastas da desgraça,
Não há viv'alma que o consiga e faça,
Hasteiam se bandeiras de pura inglória,
De um sujeito triste com tão pouca história.

A última dança.

Deixa me que te agarre num abraço forte, com toda a minha força, com toda a minha vontade e sem que me empurres, sem que me ignores.

Tens saudades minhas?
Só os Homens o sentem!

Deixa me que te cuide, que te alimente, que te pocure sempre, sem que recues e olha me de frente.

Porque não me olhas?
Só os Homens o fazem!

Deixa me que te sinta, que te cheire, que o meu toque na tua pele seja eterno, sem que te ofendas, sem que lutes contra a minha mão.

Danças comigo?
Só os Homens dançam!

LUA

Suspendes o ódio e a escuridão dos céus,
Vives do movimento e depois dos assombros,
Foges iluminada esvoaçando os véus,
Carregas o medo dos homens nos ombros.

Quartos de luz de silêncio de guerra,
Cheia de tudo, das marés e da terra,
Cais em êxtase quando te pões nova,
Morres de amor numa escuridão nervosa.

Cheia de nada do primeiro e de clarões,
Iluminas os lobos, a noite e os ladrões,
Tormentas gigantes , conduzes marés,
Misteriosa dos céus, ninguém sabe quem és.

Unha desfeita cheia de névoa,
Ladeiam-te póros de gelo e das trevas,
És ausente de tudo à beira-mágoa,
Vejo te linda com os meus "olhos frios de água."

terça-feira

Arquitectura da fuga e a revira-volta.

Bates me no peito com a força de um canhão,
Arcos em quebra com a força da pressão,
Pressa na ida num arqueamento natural,
Falas do teu tempo que nunca foi igual.

Desenhas a cúpula por onde queres sair,
Guardas martelos que te ajudam a fugir,
Rasgas projectos para omitir o pecado,
Deixas as marcas a quem te quer guardado.

Aceleras os ponteiros em tempo recorde,
Esqueces o passado para que nada te demore,
Decoras as paredes com um branco puro e limpo,
Esqueces te de mim e daquilo que sinto.

E se mais tarde a cúpula desabar,
Revives os anos que não soubeste cantar,
Reconstróis impérios feitos de água e xisto,
Relembras a casa, onde ainda hoje existo.

Ser como o vento

Que tal se o vento nos levasse,
E na curva nos largasse,
Atirados de forma bruta ao nevoeiro,
Entre folhas secas e pedras no meio.

E se a chuva nos molhasse,
Talvez ele se entregasse,
Aos ramos velhos de centeio,
De um tronco nobre que nem veio.

Como se de uns cabelos gastos,
De lágrimas em cara escorridas,
Levitam almas por verdes pastos,
Onde as mulheres felizes andam escondidas.

Depois a noite acontece,
e o vento vira, volta e curva,
Ajoelhamos-nos numa prece,
De uma obra triste e turva.

domingo

sábado

Crows

Step out the front door like a ghost into the fog
Where no one notices the contrast of white on white
And in between the moon and you the angels get a better view
Of the crumbling difference between wrong and right
I walk in the air between the rain through myself and back again
Where? I dont know
Maria says shes dying through the door I hear her crying
Why? I dont know

Round here we always stand up straight
Round here something radiates

Maria came from nashville with a suitcase in her hand
She said shed like to meet a boy who looks like elvis
She walks along the edge of where the ocean meets the land
Just like shes walking on a wire in the circus
She parks her car outside of my house
Takes her clothes off
Says shes close to understanding jesus
She knows shes more than just a little misunderstood
She has trouble acting normal when shes nervous

Round here were carving out our names
Round here we all look the same
Round here we talk just like lions
But we sacrifice like lambs
Round here shes slipping through my hands

Sleeping children better run like the wind
Out of the lightning dream
Mamas little baby better get herself in
Out of the lightning

She says its only in my head
She says shhh I know its only in my head
But the girl on car in the parking lot says
man you should try to take a shot
Cant you see my walls are crumbling?
Then she looks up at the building and says shes thinking of jumping
She says shes tired of life she must be tired of something

Round here shes always on my mind
Round here hey man got lots of time
Round here were never sent to bed early
And nobody makes us wait
Round here we stay up very, very, very, very late
I cant see nothing, nothing round here
Catch me if Im falling

quinta-feira

Nuno (Nuneta)

Perdidos e achados.
De olhos molhados.
Encontro dos castanhos e esverdeados no meio da multidão.
Soltar dos pulsos irmãos.
Corda entrelaçada, agora cortada por uma tesoura de mão.
Ida e volta, partida de revolta num mar de turbilhão.
Cheiro ausente, voz demente no tremer da emoção, com ou sem razão.
Cumplicidade agarrada de viagem marcada rompendo a união.

Apenas o mar rasga o espaço,
De uma alma feliz que assim te perde,
Encosto me hoje num velho sargaço,
Com a simples saudade que Deus me pede.

Alenta me a imaginação do lembrar,
Que um dia me surges vindo do nada,
Homem que é mais que meu par,
Vindo de uma qualquer vida encantada.

E na madrugada de um novo dia,
Acordada de bem estar,
Espero a chegada de figura esguia,
Assim que essa aventura acabar.



"É muito difícil encontrar um bom amigo, mais difícil ainda deixá-lo e impossível esquecê-lo."

domingo

Geometria indescritiva

Nem sei se é possível, as camisas rasgadas não têm volta a dar. Há de ser sempre assim e bem que nos perdemos, andamos fora da linha continua.
Imaginar viagens a contar os traços que nos dividem, o tracejar de uma estrada, lembrar:
Eu já passei por aqui?
Não, esta estrada é sempre igual, passaste por ela há um quilometro atrás, e é tudo...

Depois vamos, seguimos, vemos o futuro juntar-se na linha do horizonte, e quanto mais andas, mais te afastas, e segues e afastas, e mais segues e mais sais e mais me largas.

Não uses a estrada como vida própria, ela nunca se encontra!

Nós...talvez um dia.

quinta-feira

*******

Não tenhas medo, sempre to disse, sempre to lembrei.
Preferes ouvir o cair dos pingos da torneira, um embalar da gota em água, como se o compasso do tempo te hipnotiza-se.
Sempre foi com cara lavada, camisa desgrenhada e a fumar um charro.
Fumo de lamentação? Eu não, eu, não! Mas obrigada!
Largas o embrulho em mesa desfeita, deixas que ópera se cale e estimulas o ladrar dos cães.
Aí vem tempestade...
O melhor é cortar os pulsos, devagar, devagarinho...


hummmm...

quarta-feira

PG

Bem sei que os relógios se encontram duas vezes por dia, que as roupas que ontem usaste jamais as voltarás a vestir, que as confidências em 9 horas de olhares não passavam de escapadelas de um outro mundo que não o meu.

Que os tambores apenas falam em inglês, que o sentar no chão é apenas para estrangeiros, o ser se desconhecido de todos os monumentos nos fazem pensar que somos especiais e nunca vistos.

Bem sei que o voltar a casa não é para sempre, é o entrar com o corpo e sair com a alma, é beber água a pensar no vinho, é ter fome e não comer.

Nunca se volta a uma casa onde nunca existiu o sangue, onde nem os cabelos se encontram.

Esse teu sangue não é o meu, nem chega a ser o teu, esse latejar de nervos miudinhos de quem veio para não ficar.

Como agarrar para deixar cair, segurar para mais tarde largar.

Depois há os resistentes, os que guardam para não deixar fugir, os lembrados que não se deixam ir, porque melhor que não querer ficar, é saber que se quer partir.