segunda-feira

Água da minha terra

E se te sentasses à minha beira,
Se te encostasses e baloiçasses a minha cadeira,
Onde Deus nunca foi santo ou herói,
Onde aqui domina o que se constrói.

E se te deitasses na minha cama,
Se te levantasses como quem ama,
Onde a Senhora nunca se deitou,
Onde de o fruto nunca provou.

Sonhava anónimo e nunca visto,
De profeta incompreendido como Jesus Cristo,
Confuso e denso como o universo,
Perdido nas estrelas, vago e disperso.

Se me embalasses em pequeno o berço,
Ao Senhor chamava e assim o pareço,
Como do copo bebido o santo graal,
Filho do mundo e de um comum mortal.

De tudo que tem grandeza e cor,
De tudo um pouco e mais amor,
Embalas-me numa mão perdida de desejo,
Como se caminhasse sobre as águas do Tejo.