domingo

Pessach (1976)

Lembro me de ti como carne para canhão!

Andavas tu descalço, com os pés em ferida. Já o teu pai tinha separado as águas e festejava o dia em que as flores se abriam.

Mas antes, muito antes!?

Antes? Antes tudo era pó. Só havia pontes em madeira. Passagem de um lado verde para o outro lado verde. E mais acima, mais pontes havia, estava tudo separado por riachos, que mesmo atravessados a pé, não me molhavam sequer os calcanhares. Mas eles fizeram pontes, passagens dizem eles, passagens! Passagem do mundo amarelo para o mundo amarelado.
Antes de ti tudo era igual. Essas pontes hoje não existem e mal sabem eles que passados estes anos, os riachos tornaram-se num imenso mar, agora sim, essas pontes davam jeito!

Acho que sempre foram estúpidos!

Desculpa, não volto a dizê-lo! Mas é o que de facto são estúpidos...
Não lhes bastava 2 pontes? Visto do céu tudo parece ridículo.
O que é que dizes ao teu pai? Olhe...são as passagens deles. Passagens?

Depois vieram os ramos, abanavam se com eles para disfarçar o calor que nem tinham. Folhas gigantes de palmeira. Nem tinham calendário como o nosso, não tinham dias como nós, aliás um dia não são dias, mas eles abanavam-se por dias! Estúpidos!

O que é que te irrita tanto?

A estupidez do Homem, eles não perceberam ainda que a passagem és tu!?