quarta-feira

A cabeça fora do chapéu

Na página certa escreves um conto amigo,
Acendes o fogo que trazes contigo,
Arrastas a pedra pesada sem querer,
Escondes a obra que teima em aparecer.

Foges em cruz numa noite obscura,
Seguem-te na ânsia de quem te procura,
Deixas-te cair sem que te queiras achar,
Pedes amor ao sol e a força ao mar.

Encontras a cidade que nunca te quis,
Esqueces as ruas onde foste feliz,
Pintas as paredes de um amor de outrora,
Escondes-te de um outro de hoje e agora.

Nesse cantar imaculado e puro,
Buscas em ti um porto seguro,
Força em tudo e venha o que vier,
Melhor que isto tudo é ser-se mulher.

Não consigo acender o isqueiro.

Parece que o mal do mundo anda nas teclas, do A ao Z, do Ctrl ao Del, do F1 ao F9 e quando isso não chega, sempre há o Caps lock, para aumentar o martírio.

Pior que isso, só a dor no corpo todo, como quem andou a rastejar num campo minado, a estoirar uma bombinha de cada vez, e a levar com o estrondo 50 kls de carne fresca.

Experiências de campo de férias talvez...


E porquê?

Dor na ponta dos dedos...e cigarros, esses, só se alguém me trouxer uns fósforos.

terça-feira

As dez montanhas mais altas do mundo e tu.

Pé ante pé, sem corda de segurança...


Por três vezes te ergues no mundo ,
Rodas nas trevas por mais de um segundo,
De um sonho negro que não é só meu,
Dono do despertar que nunca foi teu.

Por seis vezes as mãos ele ergueu,
Toque no céu que antes se escondeu,
Foges das alturas e da alma que teme,
Preferes o mar e controlar o leme.

Tu que um dia ousaste amar,
Por portas altas onde só podias matar,
Cavernas escuras que não mostro ou desvendo,
Arrombas a porta com um amor tremendo.

Entraste com velas onde hoje me roço,
Cantaste músicas que ainda agora oiço,
Tocaste no meu cume como seta em água,
O que sinto hoje é amor, não é mágoa.

Escalas a montanha com a bandeira na mão,
Cravas no peito num acto de união,
Desistes do jeito e sais a voar,
Hoje pergunto o que te levou a entrar?

I believe so...

http://www.youtube.com/watch?v=JsLdnKtFpNg&feature=related

Jogo do vai não vai mais o silêncio de uma pobre alma.

http://www.youtube.com/watch?v=2x7YAOV3_14&feature=related




Vira já na próxima esquina, aí já estas a meio caminho do céu, distância suficiente do abraço.

Tens força que chegue para te atirares?

Queda livre, saída, atira te e pronto!
Puxas pela voz, pela corda ou pelo raio que a parta, mas solta-te.
Não queres não feches, vem de olhos, boca, braços, pernas, narinas, dedos, mãos, pés, o que quiseres trazer contigo, abertos ou fechados, de costas ou de frente, de pés ou de cabeça.

Arrisca!

Vem a dormir se isso te faz sentir mais velho e sábio, podes sempre vir a dormir, simulas o peso de uma pluma e vens a pairar, dessa maneira não vês o chão aproximar-se a 230 kms hora, se o teu medo é a distância, ou será a velocidade? Ou é mesmo tudo?

Pergunto te outra vez:

Tens força para te atirares?

Porque eu tenho como te agarrar!

segunda-feira

Guerra na cidade dos idiotas

Protege-o, que o gajo é um maricas!
Não te preocupes, eu guardo-lhe as costas...



Trepa acima e rebola por ali abaixo, arrasta-se como lagarta, encolhe-se como um menino.

As vezes é preciso dar a cara, levanta-te e luta!

Um tiro no ombro nunca fez mal a ninguém, dói mais ter fome, olhar para o sol, ter a pele gretada do frio, amar e não ser amado... levanta-te e corre, com sorte, a única coisa que te acerta é uma bala amiga, agora se for o cúpido, aí sim, estás bem fudido, por isso é bom que calces as rodas e te ponhas a deslizar...

Levanta a arma e aponta em sentido, os inimigos estão de amarelo, (cor estúpida para quem não quer ser visto)! E já agora leva o código para conseguires abrir a porta do campo ao lado, não ponhas os pés em água senão morres electrocutado.
Vê se desta vez arriscas, antes de te atirares para o chão...

Vou estar mesmo atrás de ti!

Atrás?
Isso, atrás, nem à frente, nem ao lado, é atrás!
Mas atrás não me vale de nada...
Então não? Não é esta uma batalha de caranguejos?

You...

http://www.youtube.com/watch?v=8UkKTlzyLhQ

domingo

Mãos lavadas

Primeiro dia, primeira facada, primeira desistência, primeiro café com o primeiro cigarro. Primeiro bocejar, primeiro acordar, primeiro beijo, primeiro amor, primeira viagem, primeira ida, primeira volta, primeiro olhar, primeira dança, primeira vez, primeira pedra, primeiro desgosto, primeira história, primeiro toque, primeiro choro, primeiro murro, primeira paixão...


Tenho em mim, que tudo deveria ser como da primeira vez!

sábado

Direitos de autor de uma verdadeira escritora

Já li isto um milhão de vezes...
E vou ler um milhão de vezes mais!


"Dá-me cinquenta razões para esquecer-te. Cinquenta razões para não mais perguntar por ti, nunca mais revolver-me em mórbida curiosidade. Para que desista do desejo incessante de saber das tuas voltas e revoltas, dos teus tiros e retiros, das tuas canções e redenções. Não, espera. Não me dês nada. Não mudemos a história. Deixa-te ficar sossegada, em casa, debaixo das mantas de Outono. Não quero que te canses. A partir de hoje, tudo o que pedir, pedi-lo-ei ao mundo.

O mundo que me ofereça razões pra que nunca mais te trepe na janela, para que não mais os pés me fujam até onde vives. Mas se cinquenta é um número redentor, então cinquenta são as tuas ruas. Não te cingirás nunca a uma avenida só, mesmo que desemboque num santo de braços fechados. Repara: tens a rua onde te reconheci pela primeira vez. A rua onde te beijei o nariz, te abracei os medos, te contei os dedos. Tens a rua que vai da cozinha ao teu quarto - caminho que tantas vezes partilhámos, entre cheiros de cabelo teu e tremuras das pernas minhas. És dona da rua onde Deus passou por nós numa tarde de chuva. Da rua onde esse mesmo Deus gritou que nos separaria. E após essa separação és dona de todos os lugares, como se depois de ti a cidade estivesse suja de impressões digitais. És dona do centro comercial onde me fazias bainhas nas calças, dona da parede onde pintei as palavras AMANHÃ FICA COMIGO, dos passeios que sujei de verde e de vermelho, das calhas de eléctrico que me vacilam o carro, do marquês que afinal é rei. Tu és dona.

Não te canses mais, menino perdido. Desiste de mim. Não sou mais que a fuga tua aos dias tristes. Fizeste de mim mulher-explosão. Mas eu, rapaz, não passo de ser quem sempre fui. Apenas quem não te queria.

Um dia desistirás tu de não saber-me. Um dia cinquenta paredes te cairão em cima, ou cinquenta tapetes se levantarão. E todos os momentos-eu que para debaixo deles atiraste - os cheiros meus, os olhares mais ternos, os gestos desconsolados - tudo te voltará. Um dia, talvez daqui a cinquenta anos, levantar-te-ás assustada. A meio da noite sem saber para que lado da cama cair. Lentamente porás um pé, depois o outro, nos chinelos alinhados no chão. Sentar-te-ás na borda da cama, com uma mão de cada lado do corpo, apertando os lençóis e os algodões. Farás de tudo para que o teu homem-pouco não acorde. Virar-lhe-ás as costas num gesto inato, de metáfora. Então, como num tique de memória, ver-me-ás entrar. O teu corpo estremecerá por saber-me vivo, eu, o cabrão que fizeras apodrecer, desaparecer, envelhecer, distorcer. E que no final mandaras matar. Afinal nada me tinha morto, nem sequer a arma da tua vontade. Afinal tinha sobrevivido ao tempo e à escuridão, ao teu voto de exclusão, à missão da chuva e dos tufões de Abril. De anos e anos antes. Continuava vivo, tão vivo que quase me sentias real, quase era eu o teu homem de sempre. Quase não tinhas errado.

Não avances mais. Não vejas um futuro que não tens que ver, que não é teu e que nem nunca existirá. Deixa-te ficar quieto no teu canto, não me entres mais por dentro. Sai de uma vez. Eu sem ti sou tudo.

Nem tu, nem ninguém. Nem sequer cinquenta pastilhas na minha mão, esperando para ser engolidas. "Pastilhas para acalmar, para controlar", dizia o médico e diziam os teus amigos. Pastilhas que me roubaram vontade mas nunca a dignidade, que me roubaram velocidade mas nunca a intensidade. Nem tu, nem ninguém, nunca me roubarão de ti. Cinquenta tijolos podem voar, fazendo pontaria ao meu peito. Cinquenta amigos podem dar-te razão. Cinquenta canções podem perder-se pelo caminho, as que eram minhas e eram tuas. Cinquenta objectos podem trocar de posição - o saleiro pelo pimenteiro, o telefone pelo vidro sujo, até o jornal pelo prego antigo. Nunca nada me fará parar.


Tu paraste já, há tanto tempo. Há anos que não sei e ti, há anos que as vozes inoportunas não fogem para o tema teu. O mundo aprendeu a controlar-se, a não deixar que o tu e o eu se encontrassem mais, nem mesmo nas coincidências. Já ninguém se lembra de nós. E por isso, Ser descoordenado, não jogues mais a sorte que e caiu em cima. Esqueceste-me. Aceita que me esqueceste.

Vem. Grita-me cinquenta vezes que nunca me pertenceste. Grita o quanto me iludi nas noites tristes em que me passavas a mão no peito, quando o meu coração batia acelerado e eu tinha medo de morrer. Grita que dos teus dedos não saiam analgésicos, calmantes, anti-oxidantes e suavizantes. Grita que não me abraçavas com força, tanta que se te cortava o ar. Que não encostavas a testa na minha e dizias "não me largues", que não me fixavas os olhos por uma hora e cinquenta minutos, que não me rezavas no ouvido, que não me amavas quando ninguém via ou ninguém ouvia.
Por ti, meu amor perdido, porque tu partiste, os dentistas especializaram-se no fabrico de caixões. As mulheres da fruta passaram a apregoar taludas, as lojas de chineses deixaram de vender caixas inúteis, os professores de yoga licenciaram-se em química. Depois de que te foste. até o Quarteto deixou de ser cinema.

Acaba. Acaba com isso agora.

Tu amavas-me desajeitadamente, mulher. Roubavas-me a mão em lugares escuros, puxavas-me para a cama em noites de humidade. Transformavas Lisboa e Barcelona em cidades tropicais, tanta era a água que te saía do corpo quando me deitavas. Suavas antes de tempo, mas tínhamos começado e tu já quase no fim, um pé meu tocava o teu e já tu ofegavas de desejo.

Por favor, não entres por aí. Vais mentir descontroladamente. Eu nunca sequer soube o teu nome, quanto mais o teu cheiro.

Do meu cheiro sabes à distância. É impossível que aterre em Lisboa e da tua mão não caia o lápis, o alicate, o bisturi. Que não te pares por um segundo, que não te sintas estranha em território teu. É impossível que em dias de regresso meu não tenhas medo de sair à rua ou tocar o chão.

Pára de enunciar razões e reciclar tentações. Tu nunca me exististe. Levei cerca de cinquenta minutos, talvez segundos, a esquecer-te e a expulsar-te. Não consigo entender porque raio ainda te lavas no sabão dos anos passados.

Deram-me cinquenta razões para deixar-te. Para esquecer-te e não mais desenvolver-te. Para partir, desistir, nunca mais reincidir. Os homens preocuparam-se realmente, fizeram manifestações na minha porta, de cartazes levantados e hinos bem preparados. Levantaram braços e fecharam punhos, ameaçando-me, arrastando-me pelos colarinhos, deitando fogo a imagens tuas. Propuseram-me trocar-te por cinquenta mulheres bonitas, e tu que nunca sequer foste bonita, era eu quem tinha olhos turvos de melancolia. Ofereceram-me dólares e outros tostões, mandaram parar comboios e aviões. Só para que me fosse. Diziam eles que o amor que levava era arrasador, excessivo e aniquilador. Entristecia povos e alentava a solidão, trazia mudanças de clima e defraudava sociedades ecologistas.

Parti, sim. Mas não por cinquenta razões. Não por respeito a ti ou respeito a mim, nem seque por respeito aos animais que barafustavam.
Eu parti por respeito à cidade. Por respeito à calçada gasta, às pedras polidas por pés arrastados. Aos cabos eléctricos que movem transportes, às febras de Junho e à cerveja entornada. Parti por respeito ao cheiro a café que sobe as ruas em manhãs geladas. Ao velho que na avenida diz adeus, sem distinção ou sem razão. Ao poeta, ao desenhador e ao jardineiro. Ao pregão e ao ladrão. Eu parti por respeito ao manjerico, às torradas cortadas em três, ao pousar dos pombos e ao voar das migalhas. Aos pátios escondidos, às laranjeiras acolhidas, às estátuas de mortais. À luz do rio. À cor da ponte. Meu amor antigo, que saibas esta única verdade: viver Lisboa sem ti, mas querer ainda estar contigo, é como amar a duas mulheres ao mesmo tempo. E o meu coração nunca foi tão grande."

O Dever de Um Homem por Matilde Campilho na Egoísta 50, de Junho de 2008.

quinta-feira

Dom'nú da razão.

Há cidades que parecem selvas, há o dar a mão e não a agarrar, há compassos a circular apenas a 180º, há quem fique pela metade, há o inchaço do cérebro ausente de massa, há o sangue que corre nos vivos, há a carcaça dos bichos selvagens, há a vergonha do uso supérfluo, há árvores que já nascem tortas, há a conversa com os mortos.
Há a comodidade da relação ou da falta dela, há a iluminação profunda, há as revistas com marcas de copos de uma noite qualquer, há o jogo de xadrez feito a um.
Há a procura de outros corpos, há outros tactos, há outras camisolas muito acima do teu número, há outros cortes de cabelo.
Há sons válidos, há homens que se levantam, há mulheres imortáis.
Há o desfibrilador a 300 wats, há pás da ressurreição, há filhos de um deus maior ou de outros 100, há a comida que queima, há água congelada que evapora.
Há aulas sobre rochas partidas, há livros passados à lupa, há sumos espremidos em noites frias, há bolos duros comidos, há chocolate amargo cuspido, há monstros da criatividade, há a realidade esquecida e o milho deixou os campos.
Há a realidade das coisas, há ausência dos amores, há os escudos protectores, há formigas a roubar comida, há murros na solidão, há velhos a celebrar os jogos e os bancos, há a música eterna, há arranhão nas costas, há o roxo, há os dedos no chão, há a vista da janela, há anos corridos, há gente, em causa nossa, há equilíbrio sobre 7 rodas.
Há o desconhecido das sebentas, há a pequenez dos astros no papel...


Depois...

Só depois, existes tu e eu...

Assobio (seguido por dor de cabeça)

Mãos nos bolsos, abanar a anca enquanto ando, danço e canto pela rua a caminho do escritório.
Esquerda-direita-esquerda, mais uma voltinha, um Plié e depois o poste!


Não vi o cabrão!

Se não te calas, calam-te...

quarta-feira

Chegar a casa.

És Dom sol que se abre aos céus,
És vida pura em olhos meus,
Tens seio materno que nos amamentou,
Vives na guerra que Deus te fadou.

Montanha homem, antes menino,
Que nas veias escorre o fatídico destino,
Gritas de noite e perfumas o dia,
Sons próprios teus que mais ninguém cria.

Pai foste e hoje nobre cavaleiro,
Vales de força em campo inteiro,
Ondulam armas sem te poder ver,
Entregas os braços sem saber perder.

És vida inteira em causa tua,
Dono da terra, das estrelas e da lua,
Império oculto que ninguém se intromete,
És vida em sonho, meu pequeno Tibete.

Estranha forma de expressão.

Virose, forte!
É como escrever para depois apagar.
Usar carvão em vez de tinta feita de cobre.

Dizem que o cobre dá boas energias!

Depois, escreves para a eternidade o que devia ter sido apagado hoje:

- Cartas de saudade;
- Já se faz tarde;
- Amanhã não quero;
- Agora espero;
- Ontem perdeste-te;
- Depois esqueceste-te.

Aí usavas o lápis...

Trocaste as tintas rapaz!

Love is...


...in a kiss!


terça-feira

Salta pocinhas

Dou por mim aos saltinhos, a correr e aos pulinhos, bem rápidos para não molhar as meias.
Mais vale tirar sapatos e arregaçar calças, assim só molho os pés!

Corro mais uns metros e encontro o jardim cor de rosa.
Beijo a testa do Mocho, faço cócegas no Ouriço, monto à Amazonas na abelha e dou por mim a 200 metros do chão.

Tenho vertigens, prefiro a apnéia!

Leva-me até ao chão, prefiro os pés molhados, as meias encharcadas e sapatos na mão.
Volto a beijar a testa do Mocho e volto a fazer cócegas no ouriço, viro-me e desapareço!

É da praxe beijar o mocho e afagar o seu bicho de estimação...jardim estranho este!

Voltar para casa, decorei as pedras que pisei?
Nunca...a memória escapa-me! porque não as pintei?

Assim voltei, calças arregaçadas, sapatos na mão, meias molhadas, mas com os pés no chão!




Terra a Terra.
Acorda!! Os jardins têm outra cor...e tu nunca tiveste medo de alturas!

A.M.O.r.

Giro é falar de amor sem o sentir, é como cego a apalpar...reconhecer e não ver!

Depois acaba, como se chegasse à última estação de uma viagem que durou 50 horas.
Dói o corpo, o espírito e a alma.

Dor de ossos, acomodado no mesmo banco, na mesma posição, no mesmo cheiro, na mesma cara, na mesma pessoa e por 50 horas? Não...

Comer o mesmo bolo durante anos, usar a mesma camisola durante uma semana, nunca mudar os móveis de sítio, ver os mesmos canais, ouvir o mesmo CD, sair sempre às 7, entrar sempre as 10, fazer o mesmo caminho, jantar sempre as 9, correr sempre os mesmos 20? Não outra vez...

Murro em cima da mesa!

Acabar. Desenvolver e seguir.
O amor nunca acaba, sente-se, por isso não falo do que não sinto!

quinta-feira

Filho da Terra

Entras pela luz da fogueira,
Numa dança que te clareia,
Bates os pés na terra com dureza,
Levantas os pós da certeza.

Embalas uma canção nunca vista,
Dança de pernas egoísta,
Arrancas cabelos em soltura,
Num movimento que perdura.

Iluminas a floresta apagada,
Numa coreografia pouco ensaiada,
Tornas o frio em coisa quente,
Carregas o meu futuro no ventre.

Fogo que te move, vê e aquece,
Levanta-se a chama que me enlouquece,
Juntamos os corpos em acto comum,
Na única dança em que fomos um.

Diálogo entre ladrões

Ida:

- Vais tu ou vou eu?
- Vais tu porque a última foi a mim que doeu!
- Qual delas te pôs torto?
- A da porta dura deixou-me morto!
- A porta clara ou a outra escura?
- A porta branca e dura!
- Vou agora e tu ficas a olhar?
- Vai, para que possamos voltar!
- E no saco quem segura?
- Seguro eu para que corras!
- Levo a lanterna que a noite é escura!
- Rezo para que não morras...

60 pulsações - 60 segundos

Foi o tempo em tempos perdido,
Num mar bravo não esquecido,
Em flor nova de aventura,
Numa névoa nunca escura.

Nem num minuto ou segundo,
Me encontrei no fim profundo,
Numa paixão clara que já era,
No pouco amor que nunca dera.

Mágoa foi que nunca roguei,
Até porque nunca encontrei,
Deixo-me livre e a pensar,
Num breve lamento de olhar.

E aquando da falta de um sinal,
Numa alma sempre igual,
Seja ela forte ou dura,
Tanto bate até que fura.

O mundo ao contrário!

Hoje vi um cão a passear o dono...

terça-feira

Last one standing

Que alternativa tens senão parar o relógio, fechar as luzes e acender as histórias, correr contra o vento, o lavar das cartas.
Acaba. Pára. Apaga.
Congelar o tempo, o vento, o fogo, a tesão, o amor, o coração. Frio. Gelado. Parado.
A dança dos mortos, corrida de motos, fuga das bicicletas, competição de bichos de conta. Cheiro de Doninha, pedra pequenina, ponteiros fugidos, ao longe os ruídos.
Passos pesados, olhos cansados, molhados, nem amarelos nem esverdeados, fechados.
Não chores.
Decisão, ilusão, desilusão, conclusão.Não olhes.
Ficar e esperar. Olho enquanto te espero.

Espero por ti até me quereres!







Pietá

Pedra virgem que descansas ao largo do riacho que te moldou, que te adoptou até à eternidade, vagueias com as correntes que o riacho te propõe, usas a cor que ele te impôs e o cheiro que te oferece. Pousas nua e fria, com marcas de mágoa e desistência, procuras o poiso seguro e a chave para a existência.
Sustentas a ambição numa marca restrita, queres muito mais mas que ninguém te acredita.
Esperas nas horas, nos anos e segundos, vês passar os milénios e o transformar dos mil mundos, decoras as constelações e o significados dos signos, ultrapassas o tempo dos dinossauros e outros pequenos.

Depois alguém passa e te trespassa, agarra te como troféu e exibe-te como taça, arranca te de casa, do calor e do aconchego materno, faz te esquecer do amor que até agora era eterno.
Molda-te numa escultura de uma mulher polida, com seios de leite e ventre com vida, tornas-te mãe dura numa arte sem escolha, devastas a memória da pedra e da folha.
Mais tarde, encontras -te com forma esculpida, por umas mãos rijas e gastas do tempo e da vida, tornas te obra de um qualquer génio autor, esqueces o teu caminho e surpreendes a dor.

De tudo o que se torna épico é porque alguém o faça, numa vida de pedra que se tornou forma de graça, vives o final como o momento de glória, se ontem eras pedra hoje és história.

Interrupção

...


És maqueta de esferovite, de um qualquer monumento por construir.
És pedra de calçada, separador de auto-estrada ou o seu traço continuo.
És limite de velocidade, numa aldeia ou cidade, és sinal de proibido, portão velho esquecido de casa abandonada. És paragem obrigatória, não és mais um hino de glória, és passado perdido, futuro esquecido, és personagem secundária e lâmpada apagada.

O génio?

És sombra dos sonhos, és pecados medonhos dos três ou dos sete.

Mas o génio? E os pecados são sete!

Shiuuu! Não me interrompas que isto sai tudo seguido e de fininho!
És tu que sabes quantos pecados o outro comete?
Mal sabes tu que não são três nem sete! São no mínimo oito...

Oito?

Estupidez, diz te alguma coisa?

Bem, continua...

Contra resposta

Porquê?
Porquê o quê?
O quê não sabes?
Não, o quê?
Não sabes o porquê?
Porquê o quê?
O porquê de não saberes ou do não?
Qual não?
Não porquê?
Porque não?
Não sabes?
Não. Tu sabes?
Sei o quê?
O porquê?
O porquê do quê?
Do não ou do porquê?

Não sei...

Então porque perguntas?
Pergunto o quê?
O porquê?
Mas o porquê do quê?
Não era uma pergunta?
Qual?
A do porquê?
Não era a do não?
Era?
Não, era do porquê!
Porquê?

Não sei, mas não quero e pronto!

segunda-feira

Give me something of that

Ri-te todos os dias 100 vezes e depois agradece,
Lembra-te do ontem 5 vezes e depois esquece,
Imagina o dia seguinte 3 vezes e depois aparece ,
Liga a quem amas 1000 vezes e depois permanece,
Recorda a tua infância 2 vezes e depois cresce.

Love rider

Pois, lá andas tu aos tiros!
Sobrepões e arrastas-te mulher feita máquina.
Bailarina privada, recebes dinheiro a troco de nada, não olhas nem fitas, não beijas e não acreditas, és mulher de varão, de arma na mão e a troco de nada ficas parada à espera de nada e com sonhos de ilusão.
Lá está! Arrastas-te pela calçada, meia nua e cansada de uma noite de dança, sempre com a esperança que te salve um qualquer cabrão.

Coitada de ti mulher!
Disparas para todos os lados, mas não acertas em ninguém...

Chegas a casa, vestes o que o antes não vestias, entornas o vinho num copo que nem vias, e não te chegasse já a outra bebedeira, bebes um, dois, três copos e depois a garrafa inteira.

Assim não vais lá!

E depois há o acordar, que pior que despertar, e sair da cama vazia, e como já Deus te dizia:

"Ama o próximo!"

Não há próximo, nem de perto nem de longe, nem ontem e agora, é que...

...As máquinas não vivem muito!

domingo

Pessach (1976)

Lembro me de ti como carne para canhão!

Andavas tu descalço, com os pés em ferida. Já o teu pai tinha separado as águas e festejava o dia em que as flores se abriam.

Mas antes, muito antes!?

Antes? Antes tudo era pó. Só havia pontes em madeira. Passagem de um lado verde para o outro lado verde. E mais acima, mais pontes havia, estava tudo separado por riachos, que mesmo atravessados a pé, não me molhavam sequer os calcanhares. Mas eles fizeram pontes, passagens dizem eles, passagens! Passagem do mundo amarelo para o mundo amarelado.
Antes de ti tudo era igual. Essas pontes hoje não existem e mal sabem eles que passados estes anos, os riachos tornaram-se num imenso mar, agora sim, essas pontes davam jeito!

Acho que sempre foram estúpidos!

Desculpa, não volto a dizê-lo! Mas é o que de facto são estúpidos...
Não lhes bastava 2 pontes? Visto do céu tudo parece ridículo.
O que é que dizes ao teu pai? Olhe...são as passagens deles. Passagens?

Depois vieram os ramos, abanavam se com eles para disfarçar o calor que nem tinham. Folhas gigantes de palmeira. Nem tinham calendário como o nosso, não tinham dias como nós, aliás um dia não são dias, mas eles abanavam-se por dias! Estúpidos!

O que é que te irrita tanto?

A estupidez do Homem, eles não perceberam ainda que a passagem és tu!?

quarta-feira

Feniletinamina

Encontras-te perdido em parte incerta,
Vives dos homens e depois do assombro,
Marcas as entradas e a passagem coberta,
Levantas-te mais depois de um tombo.

Estudas as lendas, as histórias e contos,
Sentes o cheiro de um corpo delgado,
Elaboras estátuas e pinturas em pontos,
Percorres o mundo de um lado parado.

Vês em cima o culpado presente,
De mais uma dor que nunca foi de outrora,
Sofres por isso o que mais ninguém sente,
Morres de paixão no hoje que é agora.

O que na vida sempre é imprevisível,
E o que te eleva aqui e em toda a parte,
No amor onde na maioria não é visível,
Se isto não te basta sempre há o chocolate.

Em nome do Pai

Da-me uma razão para que não te procure!

Porque não poderei eu saber por que ruas passas, por que bancos te sentas, o que sonhas ao deitar, a primeira imagem ao acordar. Dá-me uma razão para que não me sintas!
Porque não poderei eu escrever-te na parede do quarto, nas paredes do mundo, na minha e na tua, arranhar e arrancar tintas, procurar e achar-te.
Porque não posso ver com quem andas, que becos procuras, sem nome de homem ou de mulher, esse teu jeito jeitoso de ser.
Nome delicado esse que apresentas e que não se consegue escrever, é preciso entrar em mim para te conhecer. Por que ruas andas, em que luzes te escondes? E porque não danças? Não avanças? Apenas esperas que te amem sem que te dês a ver.
Dá-me 100 razões para não te ter!

Não sabes que não se duvida?

Bem que te tenho, não te vejo mas não te estranho.
Passo por essas mesmas ruas, risco as mesmas paredes, cuspo para o mesmo vaso, arranco a mesma tinta, grito bem mais alto porque o meu tu ouves, corro onde se sente o vento, paro onde os meus pés me param , deixo a tua carne e a água que deitas nos confins da minha gaveta. Ordeno os meus livros por capas e cores, por temas e autores, as molduras por pessoal e impessoal, junto o frio com o quente, cores complementares e opacas, tintas e latas.
Misturo e arranco ilusões, conto histórias de policias e ladrões, brinco como qualquer criança de 50 anos. Dá-me 1000 razões para que não o faça!

Assim está melhor!

Melhor para ti que não te cansas, que mesmo que grites a pulmões abertos ninguém te ouve, mesmo que corras pela areia ninguém te vê pegadas, mesmo que andes por becos e ruelas não há alma que te sinta.

Não tenho razões para te amar...

mas amo!





São Sebataena

Como te sinto ainda pequenina, sentada ao colo com o tamanho de criancinha mulher. Como te vejo como fogo adormecido, mar rebelde em ondas fracas envolvido, torpedo em cápsulas escondido.
Como te vejo furacão enfurecido, arrastando magoas dos desconhecidos, dos 5 anos perdidos...e tão cedo te perdeste, tão tarde te esqueceste dos mortos e defuntos, dos pais e dos segundos.
E depois vem a história própria, que só acontece a quem a evoca.

Não sei porque não te acreditas!

És criança-mulher, és mulher feita criança...porque o tempo não foi justo contigo.

SR200

De que me vale que escrevas na parede, que esmurres o ar por irritação porque quem tu queres não te dá devida atenção. E então do nada riscas me a parede?
De que me serve que ames assim o mar, e que nele te vás deitar e que te deixes embalar em coisa tão fria, e depois te venhas vingar e dizer me que não te faço companhia! Estúpido!
De que me favorece a tua presença, depois de 2 anos de ausência, por onde andaste pela Europa fora, sem cartas, pés e demora. Demoraste na volta, e eu já não te sinto pequeno!
De que me apraz o teu envolvimento, e o teu regresso ternurento que por mim não passa. E depois enrolas te na volta, onde encontras a ponta final, como se de um orgasmo se tratasse, e que mal se ficasses nesse estado de tesão, sozinho e sem razão...coitado!
De que me alimenta esse "fica comigo"? Já ele imóvel entre aspas, preso em frases e palavrões, filho de deusas e cabrões. Lixa-te...o Amanhã não existe!

terça-feira

M'rock

Não sei porque voltas, porque te voltas e afastas, porque do nada me agarras e me soltas no mesmo segundo.
Não sei porque me ignoras, tu rapazinho!
Não sei por onde andas, demandas e indagas, o que escreves e depois apagas, o que cantas como tua musica de glória, quando a letra não é tua, quando ainda te pões nua, numa qualquer vitória, que não passou senão de puta história. Tu não meu rapaz, tu não!
Que viagens são essas que tanto evocas, que não passam senão de épicos de avós, contadas por eles e ouvidas por nós, onde já dormimos sobre manto riscado, mais roto que rasgado, mais sujo que usado, mais velho que cansado...o que inventas tu agora?
Inventas que muito viajaste e pouco viste, que o teu chegar a casa é diferente dos nossos, que as tuas paredes contam outras cores e outras memórias, mais que as imagens desenhadas na carteira, onde chegas e queimas na fogueira, dizes tu que é passado! Só porque as apagaste?
E então e as recordações, mais escritas que em canções, mais faladas que cantadas, arranhadas e desafinadas, compostas por um menos Mozart, ou Sting, um take it ou bring.
E quantas línguas tens? O português, e espanhol, o italiano ou francês, o inglês ou é pura apequenes. Não te enganes rapaz! Não és único, és um...
E um que só pouco faz, que mais que tira ainda trás, que mais se dá e menos se deu, como a mãe que faleceu. Continua a fugir...
E se te digo que um dia quererás, mesmo que não sejas capaz, esse dia da espera padeceu, da noite como o breu, este amor que não morreu...
Mas rapaz, para te esquecer, basta-me tirar os óculos!

Ex-tasy

Bem que o tento,
Que o faço mas não aguento,
Que te vejo e entro num pranto,
Que me escondo de outro tanto.

Bem que o salvo,
Que acelero e não travo,
Que te endireito sentada,
Que me levanto cansada.

Bem que o fujo,
Que corro e percorro,
Que te quero e te sinto,
Que me deixo ir com o tinto.

Bem que o amo,
Que divago e tomo,
Que te desejo e prego,
Que me invade o sincero.